Câncer de ovário: Tipos, Causa genética e Exames

Entenda quais são os tipos de câncer de ovário, bem como sobre seus sintomas, diagnóstico, genes envolvidos e o tratamento da doença.
saiba sobre as causas genéticas do câncer de ovário

Segundo o Observatório Global do Câncer da Organização Mundial da Saúde, o câncer de ovário afetou cerca de 290 mil pessoas em 2020. Estes tumores malignos do sistema reprodutor feminino formam um conjunto de doenças diversas que afetam os diferentes tecidos do órgão e que são objeto de estudo e dedicação por parte de muitos cientistas.

Estes médicos e pesquisadores tentam encontrar novas maneiras de detectar o câncer precocemente pois, atualmente, cerca de 75% dos cânceres de ovário são diagnosticados em estágios avançados, o que piora o prognóstico.

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Tipos de câncer de ovário

O câncer de ovário pode ser categorizado em três grandes grupos: os epiteliais, os do estroma e os de células germinativas. Eles são assim divididos pois os tumores tendem a originar-se nestes três grupos histológicos do órgão.

O epitélio é a camada de células cúbicas mais externa, que recobre e sustenta o ovário, enquanto o estroma é composto por tecido conjuntivo, preenchendo e sustentando o interior do órgão. As células germinativas, por sua vez, são os oócitos (óvulos) ou gametas femininos, fundamentais para a reprodução humana.

Tumores epiteliais do ovário

As células do epitélio compõem a camada mais externa do ovário e são nelas em que se formam a maior parte dos tumores do ovário. Os tumores epiteliais ovarianos podem ser benignos, malignos (câncer) ou limítrofes.

Cerca de 90% de todos os casos de câncer de ovário são provenientes de tumores epiteliais. Apesar disso, este é um grupo heterogêneo, com diferentes alterações morfológicas e moleculares e que também diferem na fisiopatologia e no prognóstico.

A origem celular dos tumores epiteliais malignos do ovário ainda não estão completamente elucidados, mas é possível se observar quatro diferentes tipos histológicos, que são:

  • Seroso;
  • Endometrióide;
  • Células claras;
  • Mucinoso.

Destes, o tipo mais comum é o seroso, que responde por mais de 70% dos casos de tumores epiteliais do ovário. Estes carcinomas são classificados por “graus” que variam de 1 até 3, sendo o grau 1 representado por alterações ainda parecidas com tecido normal e o grau 3 por alterações mais significativas e que pouco lembram o tecido normal.

O câncer epitelial de ovário como um todo é o câncer ginecológico mais fatal: sua taxa de sobrevida em cinco anos é de aproximadamente 46%. Este é o sétimo tipo de câncer não melanoma mais comum no Brasil e no mundo, sendo que sua prevalência global é de 230 mil casos por ano.

Tumores ovarianos de células germinativas

Nos ovários são formados os gametas femininos, chamados de oócitos (ou óvulos). Em ocasiões raras, tumores malignos podem se originar nestas células, ainda que a maior parte dos tumores ovarianos de células germinativas sejam benignos.

Apenas 2% dos tumores ovarianos malignos são deste tipo, ainda que eles representem 70% dos casos de neoplasias ovarianas nas primeiras décadas de vida. Os tumores ovarianos de células germinativas são subdivididos em:

  • Teratomas;
  • Disgerminomas;
  • Tumores do seio endodérmico.

Quando malignos, os tumores mais comuns são os disgerminomas, que possuem um correspondente histológico nos gametas masculinos, os chamados seminomas. Estes tumores tendem a formar metástases com elevada frequência quando comparados com os tumores epiteliais do ovário.

Apesar disso, quando diagnosticados precocemente, todos os tipos de tumores ovarianos de células germinativas malignos respondem bem aos tratamentos convencionais, gerando uma alta taxa de sobrevida em cinco anos.

Tumores estromais e do cordão sexual do ovário

Também conhecidos por tumores do mesênquima, estes são os mais raros tumores do ovário, correspondendo a menos de 1% do total de casos. Entre as diferentes formas deste tipo de tumor, incluem-se:

  • Tumores de células da granulosa;
  • Tecomas;
  • Fibromas;
  • Tumores das células de Sertoli-Leydig.

Estes tumores raramente apresentam malignidade, sendo que alguns deles, como os tecomas, são exclusivamente benignos. Entre os tumores estromais, os mais comuns são os de células da granulosa, que representam cerca de 95% dos tumores do cordão sexual e que são malignos em cerca de 20% dos casos.

Os tumores mesenquimais do ovário representam o único tipo de tumor do ovário em que existem alterações clínicas hormonais e, por isso, tendem a ser diagnosticados em estágios iniciais quando apresentam malignidade.

Câncer de ovário epitelial

A genética do câncer de ovário

Variantes patogênicas de alguns genes são implicadas com a elevação do risco de desenvolvimento do câncer de ovário. Além disso, cerca de 25% dos casos dessa doença fazem parte de alguma Síndrome de Predisposição Hereditária ao Câncer.

Os genes mais comumente associados com o desenvolvimento do câncer de ovário são também associados com outros cânceres, como o de mama. Esse é o caso das variantes patogênicas do gene BRCA1 e BRCA2, que se fazem presentes em até 75% dos casos hereditários de câncer epitelial do ovário. 

De maneira geral, o risco associado com o aparecimento do câncer de ovário em algum momento da vida é de aproximadamente 2% para a população feminina. Por outro lado, determinadas mutações no gene BRCA1, por outro lado, aumentam esse risco entre 35% a 70%. 

Em outras palavras, entre 100 mulheres que possuem variantes patogênicas do gene BRCA1, a probabilidade é de que 35 a 70 delas desenvolvam câncer de ovário. Outros genes associados com o desenvolvimento do câncer do ovário são:

  • STK11
  • MUTYH
  • ATM
  • BRIP1
  • RAD51C
  • RAD51D
  • PALB2
  • TP53

O Câncer Colorretal Hereditário Não Poliposo (Síndrome de Lynch) é uma doença autossômica dominante que eleva o risco de desenvolvimento de câncer colorretal e também de outros cânceres, inclusive o de ovário. 

Mulheres com variantes patogênicas dos genes relacionados com a Síndrome de Lynch possuem um risco de aproximadamente 10% de desenvolvimento do câncer de ovário. Os genes mais comumente associados à essa síndrome são:

  • MLH1
  • MSH2
  • MSH6
  • PMS2
  • EPCAM

Por fim, é importante ressaltar que mulheres com histórico familiar de câncer, especialmente de cânceres ginecológicos, devem levar essa informação ao médico que realiza seu acompanhamento. Dessa forma, o clínico pode definir as melhores estratégias de prevenção e detecção para estes casos.

Sintomas iniciais do câncer de ovário

Os sintomas do câncer de ovário variam conforme o tipo de tumor existente. Tumores do epitélio do ovário, por exemplo, costumam ser assintomáticos, fazendo com que 75% de todos os casos sejam diagnosticados em estágios avançados.

O diagnóstico tardio dos tumores malignos do epitélio do ovário faz com que a taxa de sobrevida em cinco anos seja reduzida de 92% para 29%, quando comparado com o diagnóstico precoce.

De modo geral, mesmo nos casos em que o câncer de ovário gera sintomas, eles costumam ser vagos e não-específicos, podendo incluir:

  • Inchaço abdominal;
  • Menstruação irregular;
  • Constipação intestinal;
  • Indisposição;
  • Dor lombar.

Dessa forma, uma vez que o câncer de ovário não possui sintomas específicos em seus estágios iniciais, o acompanhamento médico regular, bem como a auto-avaliação criteriosa de seu próprio corpo são essenciais para que o câncer de ovário seja detectado o quanto antes.

Quais exames podem diagnosticar?

Não existem estratégias aprovadas de rastreamento do câncer de ovário. Isso significa que os biomarcadores atualmente disponíveis não são tão eficazes para o diagnóstico precoce quanto o são para o diagnóstico tardio.

As investigações iniciais do câncer de ovário incluem o exame físico e a quantificação dos biomarcadores CA-125 e HE4. Os exames de imagem também têm papel central no diagnóstico do câncer de ovário, como é o caso da ultrassonografia transvaginal. 

Adicionalmente, outros exames de imagem, como as Tomografias Computadorizadas do tórax, da pelve e do abdômen podem ser utilizados por médicos para mensurar a extensão do câncer.

A confirmação do diagnóstico é realizada mediante a biópsia do tecido (exame histopatológico). Para isso, o ovário pode ser removido e posteriormente analisado ou, a depender do critério médico, amostras podem ser coletadas por vídeo para posterior análise.

Muitos cientistas dedicam-se a descobrir biomarcadores que possam ser úteis para diagnosticar indivíduos em estágios menos avançados do que aqueles em que normalmente são diagnosticados hoje.

Atualmente, grande parte dos estudos dedicam-se a correlacionar genes, proteínas, sequências de RNA e fatores de transcrição com o desenvolvimento do câncer de ovário .

Como é feito o tratamento do câncer de ovário?

A intervenção adequada para casos de câncer de ovário depende da avaliação médica. Em alguns casos, como no de câncer epitelial do ovário, a cirurgia citorredutora primária seguida de quimioterapia é a primeira linha de intervenção.

O objetivo dessa cirurgia é eliminar todos os tumores visíveis presentes nos tecidos afetados. De modo geral, isso envolve a remoção do útero (histerectomia), das trompas e também dos ovários. Adicionalmente, porções da bexiga, intestino, vesícula biliar e outros órgãos podem ser removidos para maximizar a retirada de tumores.

A remoção completa dos tumores é o mais importante fator prognóstico de sobrevivência em casos de câncer de ovário. Na sequência, é comum que a paciente seja encaminhada para a quimioterapia para que sejam administrados medicamentos específicos para este tipo de câncer. 

Conclusão

Os ovários são órgãos do sistema reprodutor feminino nos quais são gerados os gametas femininos (óvulos ou oócitos). Quando as células dos ovários dividem-se de maneira acelerada e irregular (neoplasia), um tumor maligno pode ser gerado, ao qual é dado o nome de câncer de ovário.

O termo “câncer de ovário” compreende um conjunto de doenças diversas, que possuem origens, prognósticos e características fisiopatológicas diferentes. Os diferentes cânceres de ovário podem ser categorizados de acordo com o tipo histológico no qual teve origem: o estroma, o epitélio ou em células germinativas.

Os tumores epiteliais do ovário compreendem o tipo mais comum de câncer de ovário. Dezenas de milhares de pessoas são acometidas anualmente por esta doença, que possui sintomas inespecíficos e pode ser até mesmo assintomática durante os estágios iniciais.

Alguns genes estão relacionados com a susceptibilidade de desenvolvimento deste câncer, incluindo-se aí variantes patogênicas de genes relacionados também com outros cânceres, como os genes BRCA1 e BRCA2.

O tratamento padrão do câncer de ovário envolve a remoção cirúrgica dos tumores e quimioterapia. A depender do critério médico, outros tipos de intervenção são possíveis, como a radioterapia, a terapia-alvo e a hormonioterapia.

Referências

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Stewart C, Ralyea C, Lockwood S. Ovarian Cancer: An Integrated Review. Seminars in Oncology Nursing. 2019

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Instituto Nacional do Câncer. Câncer de Ovário. Disponível em: <https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/ovario>. 2022

American Cancer Society. Ovary Cancer. Disponível em: <https://www.cancer.org/cancer/ovarian-cancer> . 2022

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