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O Setembro Verde é um alerta para a prevenção e diagnóstico do câncer de intestino, o terceiro câncer mais frequente no mundo. Neste câncer, muitas das neoplasias malignas originam-se em pólipos benignos que ocorrem em nossos intestinos.
Quer saber mais sobre câncer de intestino? Acompanhe o texto para entender sua definição e conhecer dados epidemiológicos, bem como suas causas, sintomas, formas de prevenção e muito mais!
O que é o câncer de intestino?
O câncer de intestino, também conhecido como câncer colorretal ou câncer de cólon e reto, é um tipo de câncer que se desenvolve no intestino grosso (cólon e reto). A maior parte do intestino grosso é composta pelo cólon e, por isso, cerca de ⅔ de todos os cânceres de intestino também originam-se no cólon.
Existe também o câncer de intestino delgado, mas ele é raro e o menos comum entre os tumores do nosso trato digestivo. Por isso, quando falamos em câncer de intestino, estamos normalmente falando sobre o câncer de intestino grosso (cólon e reto).
Na grande maioria das vezes, o câncer de intestino se desenvolve a partir do crescimento de pólipos: lesões benignas que surgem por um crescimento anormal das células da porção histológica mais interna (mucosa) do intestino grosso.
Mas atenção: isso não significa que todos os pólipos viram tumores malignos. Se o pólipo não for tratado ou removido, ele pode se tornar um câncer.
O tipo de câncer colorretal mais frequente é o adenocarcinoma (mais de 95% dos casos) e os menos comuns são os tumores carcinóides, tumores estromais gastrointestinais, linfomas e sarcomas.

Câncer de intestino no Brasil e no mundo
Segundo o Observatório Global do Câncer (GLOBOCAN), da Organização Mundial da Saúde, o câncer colorretal é o terceiro tipo de câncer mais incidente do mundo, com mais de 1,9 milhão de notificações de novos casos em 2020.
Nesse sentido, fica atrás apenas do câncer de mama (aproximadamente 2,26 milhões de casos) e do câncer de pulmão (aproximadamente 2,06 milhões de casos). Com crescimento contínuo, estima-se uma incidência de mais de 2,9 milhões de novos casos por ano para 2040.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se o surgimento anual de 40.990 novos casos de câncer colorretal no Brasil, para o triênio 2020/2022, sendo 20.520 homens e 20.470 mulheres. Em termos de mortalidade (número de mortes), estima-se 20.245 óbitos, sendo 9.889 homens e 10.356 mulheres (Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM).
Principais causas do câncer de intestino
A maioria dos cânceres colorretais são esporádicos, ou seja, não têm causa conhecida e estão relacionados com fatores ambientais, como:
- Obesidade ou sobrepeso;
- Alimentação rica em carnes vermelhas e carnes processadas (ex: bacon, presunto, salsicha e linguiça);
- Alimentação pobre em fibras;
- Alto consumo de bebidas alcoólicas;
- Tabagismo;
- Sedentarismo.
Adicionalmente, outros fatores de risco também podem ser citados:
- Idade acima de 50 anos;
- Histórico familiar de câncer de intestino;
- Histórico pessoal da doença (já ter tido câncer de ovário, câncer de útero ou câncer de mama);
- Doenças inflamatórias do intestino (como retocolite ulcerativa crônica e doença de Crohn).
Câncer colorretal hereditário
Pessoas com histórico familiar de pólipos ou histórico familiar de câncer colorretal têm um maior risco de desenvolver a doença. Algumas síndromes hereditárias podem causar predisposição genética ao câncer colorretal, como a Síndrome de Lynch, a Polipose Adenomatosa Familiar e a Polipose Associada ao gene MUTYH.
Síndrome de Lynch (SL)
Também conhecida como câncer colorretal hereditário não poliposo (HNPCC), a SL é responsável por cerca de 5% de todos os tipos de câncer colorretal. Os genes mais frequentemente afetados são genes de um tipo específico de reparo de DNA (MMR, do inglês mismatch repair):
- MLH1;
- MSH2;
- MSH6;
- PMS2;
- EPCAM.
Dependendo do gene envolvido, o risco de câncer colorretal pode aumentar em até 80%. Os pacientes de SL frequentemente desenvolvem câncer colorretal em idade precoce (45 anos).
Polipose Adenomatosa Familiar (PAF)
A Polipose Adenomatosa Familiar é uma síndrome rara, representando menos de 1% dos casos de câncer colorretal. Ela é causada por alterações no gene APC, um gene supressor de tumor.
Essa síndrome geralmente provoca centenas a milhares de pólipos no cólon e reto, entre os 20-30 anos de idade, levando ao desenvolvimento de câncer colorretal entre os 40-50 anos.
Já foram descritas outras formas da PAF, tais como a Síndrome de Gardner, Síndrome de Turcot e a Polipose Adenomatosa Atenuada (AFAP).
Polipose Associada ao gene MUTYH (PAM)
A Polipose Associada ao gene MUTYH também é uma síndrome rara, representando menos de 1% dos casos de câncer colorretal. Ela possui manifestações clínicas semelhantes à AFAP, mas apresenta um menor número de pólipos.
Essa síndrome é causada por alterações no gene MUTYH. Diferentemente das demais síndromes, ela é herdada de maneira autossômica recessiva.
Com a ajuda dos testes genéticos, os médicos podem determinar se uma pessoa possui maior risco de desenvolver câncer colorretal devido a essas síndromes, além de fornecer suporte para condutas preventivas e personalizadas.
Principais sintomas e sinais
Cerca de 80% dos casos de câncer colorretal são diagnosticados em estágio inicial, mas a maioria dos pacientes não apresenta manifestações clínicas. Por isso, fique atento aos seguintes sintomas:
- Presença de sangue nas fezes;
- Dor ou desconforto abdominal com gases ou cólicas;
- Perda de peso sem causa aparente;
- Sensação de inchaço abdominal;
- Mudança do hábito intestinal, como diarréia ou constipação (prisão de ventre) de longa duração;
- Cansaço e fadiga;
- Fraqueza e anemia.
Lembre-se: a maioria desses sintomas não é exclusiva do câncer colorretal, sendo também provocada por outras doenças e condições. Mas se você estiver com qualquer um desses sintomas por mais de algumas semanas, procure atendimento médico.
Já para o câncer colorretal avançado ou câncer metastático (câncer colorretal que já atingiu outros órgãos), os sintomas dependem do tamanho e da localização das metástases. Normalmente, o câncer colorretal se dissemina para o fígado, pulmão ou peritônio (membrana que reveste os órgãos do abdômen).
A falta de ar, por exemplo, pode ser um sinal de comprometimento pulmonar. Procure seu oncologista sempre que evidenciar mudanças no seu corpo.
Diagnóstico do câncer de intestino
A principal forma de diagnóstico precoce do câncer colorretal é através dos exames de rastreamento, como o exame de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia.
O exame de sangue oculto nas fezes é capaz de identificar pequenos sangramentos nas fezes, invisíveis a olho nu, causados por úlceras, colite ou tumores de intestino. Assim, a partir da colonoscopia, os pólipos podem ser identificados, tratados ou removidos, evitando que se transformem em câncer.
Quando as lesões são removidas, o material coletado é encaminhado para biópsia conclusiva. As diretrizes atuais recomendam que a triagem deve começar aos 45 anos para os pacientes sem nenhum risco para o câncer colorretal. A atualização das diretrizes ocorreu após observarem um aumento de casos entre pessoas mais jovens.
A detecção precoce é fundamental. O câncer de intestino é facilmente curável quando descoberto no início.
Tratamentos disponíveis
O câncer do intestino é uma doença tratável e o tratamento depende do tipo, tamanho, localização e do estágio da doença. A cirurgia (colectomia) é o principal tratamento e objetiva remover o tumor junto com uma parte de tecido saudável. Outras etapas incluem radioterapia (uso de radiação), quimioterapia, terapia-alvo, imunoterapia, ablação e embolização.
Após o tratamento, é importante continuar com acompanhamento médico para o monitoramento de recidivas (retorno do câncer) e novos tumores. Essa é uma medida essencial para garantir o sucesso do tratamento.
Microbiota intestinal e o câncer colorretal
A microbiota intestinal, comumente chamada de flora intestinal, consiste no conjunto de microrganismos vivos (bactérias, fungos, vírus e protozoários) que habitam o trato gastrointestinal humano.
Esses organismos participam de funções importantes do nosso corpo, como a imunidade e a inflamação, além de atuarem como uma primeira linha de defesa do corpo, ajudando a distinguir os microrganismos prejudiciais dos microorganismos inofensivos.
A maioria dessas bactérias desempenha um papel benéfico para o nosso corpo, contribuindo para a manutenção de um trato intestinal preservado e saudável. Entretanto, alguns organismos têm um papel pró-carcinogênese, favorecendo o desenvolvimento do câncer colorretal.
O papel da microbiota intestinal e a resposta do organismo a diferentes estratégias terapêuticas, como imunoterapia e quimioterapia, está sendo discutido por diversos grupos de pesquisa. Esses trabalhos vêm demonstrando que uma microbiota saudável pode favorecer o sucesso do tratamento oncológico.
Através do Sequenciamento de Nova Geração (NGS), podemos estudar a diversidade da microbiota em condições normais e em um contexto oncológico. Para facilitar esse estudo e a interpretação da grande variedade de dados gerados pelo NGS, torna-se indispensável o uso de ferramentas de bioinformática.

Prevenção
Por fim, fique com algumas dicas para prevenir o câncer de intestino:
- Pratique atividade física;
- Evite o consumo de bebidas alcoólicas;
- Não fume;
- Evite o consumo de carne processada;
- Limite o consumo de carne vermelha (máximo de 500 gramas por semana);
- Aumente o consumo de fibras, como frutas, verduras, legumes e grãos.
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Conclusão
O câncer de intestino, ou câncer colorretal, abrange os tumores que se desenvolvem no intestino grosso (cólon e reto) a partir do crescimento de lesões benignas (pólipos). Ele é considerado o terceiro tipo de câncer mais comum na população brasileira e no mundo. E, por isso, merece tanta atenção.
O câncer colorretal é uma doença multifatorial, ou seja, pode ser causada por diversos fatores, como obesidade e sedentarismo. Entretanto, a doença é tratável e frequentemente curável. Procure um serviço de saúde se observar alterações no seu corpo. E não se esqueça: hábitos saudáveis são eficientes para prevenir vários tipos de doenças, inclusive o câncer colorretal.
A Varsomics promove o Setembro Verde, mês dedicado à prevenção e conscientização do câncer de intestino.
Referências
GLOBOCAN 2020: https://gco.iarc.fr/
American Cancer Society: https://www.cancer.org/
Instituto Nacional de Câncer: https://www.inca.gov.br/
Instituto Oncoguia: http://www.oncoguia.org.br/
Instituto Vencer o Câncer: https://vencerocancer.org.br/
Liu L, Shah K. The Potential of the Gut Microbiome to Reshape the Cancer Therapy Paradigm: A Review. JAMA Oncol. 2022;8(7):1059–1067. doi:10.1001/jamaoncol.2022.0494
Onconews: https://www.onconews.com.br/site/revista-index-onconews/5205-microbiota,-qual-o-impacto-cl%C3%ADnico-no-c%C3%A2ncer-colorretal.html