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A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 19 de junho como o Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença Falciforme. Doença falciforme é uma patologia hereditária que causa deformações de glóbulos vermelhos, podendo levar a sérios comprometimentos de saúde.
Portanto, é essencial a conscientização sobre como diagnosticar, tratar e prevenir a evolução da doença.
Qual a causa da doença falciforme?
Doença falciforme é um grupo de hematopatologias hereditárias, causada pela alteração do gene responsável pela síntese de hemoglobina. A hemoglobina é uma proteína composta por quatro cadeias de globina (duas do tipo α e duas do tipo β, em adultos) e um grupo heme ligado a cada uma das cadeias. O grupo heme contém um átomo de ferro que é responsável por captar oxigênio e transportar oxigênio.
Em indivíduos com doença falciforme, o gene β globina responsável pela síntese de hemoglobina apresenta uma mutação de ponto (de GAG para GTG) , que resulta na substituição do ácido glutâmico por uma valina, originando a hemoglobina S (HbS).
Diferentemente do que ocorre com o tipo comum de hemoglobinas (HbA), o aminoácido valina causa contatos intermoleculares quando em baixa oxigenação. Esse contato dá origem a agregados de fibras rígidas de HbS, chamados de polímero.
Por consequência, esses polímeros causam uma modificação na estrutura das hemácias, que passa a ter um formato de meia lua, ou foice, daí o nome doença falciforme.


Uma hemácia em seu formato normal apresenta forma de disco e é flexível, permitindo assim sua fácil movimentação pelos vasos da corrente sanguínea. Já a hemácia em formato de meia lua, chamada de drepanócito, quando em baixa oxigenação se torna mais frágil, rígida e com tempo de vida reduzido.
Quando bem oxigenada, ela pode voltar a apresentar a forma normal, em disco. No entanto, com a oscilação do formato pela presença e ausência de oxigênio, ela pode não ser capaz de retornar à forma normal e se romper eventualmente. Uma hemácia normal vive por volta de 3 meses, enquanto um drepanócito vive por volta de 3 dias.
Como o gene HbS é herdado?
Existem diferentes tipos de doença falciforme, que têm em comum a presença de pelo menos um alelo do gene que codifica a HbS. No entanto, pessoas que possuem um alelo da variante HbS e outro comum (HbA), não apresentam os sintomas, portanto não possuem doença falciforme.
Por outro lado, estes indivíduos possuem traços falciforme (genótipo AS) e podem gerar filhos com a doença.
Pessoas com doença falciforme apresentam dois alelos de hemoglobinas variantes estruturais, sendo um deles o HbS. Além da Hemoglobina S, mais de 1000 hemoglobinas variantes já foram identificadas, sendo as mais comuns e patogênicas as Hemoblogina C e E.


Quais os tipos de doença falciforme?
A severidade e o tipo da doença variam de acordo com os alelos do gene da hemoglobina herdados dos pais. Desta forma, alguns tipos de doença falciforme são:
- Anemia falciforme – Hemoglobina SS: Tipo mais frequente de doença falciforme. Indivíduos com anemia falciforme possuem duas cópias do gene HbS (genótipo SS), portanto apresentam a forma mais aguda da dença.
- Doença da Hemoglobina SC: Indivíduos que herdam um alelo do gene HbS e um da variante HbC. Normalmente apresentam sintomas mais leves da doença
- Doença da Hemoglobina SE: Indivíduos que herdam um alelo do gene HbS e um da variante HbE.
- Sβ talassemia: Indivíduos que herdam um alelo do gene HbS e um gene de talassemia, outro tipo de anemia hereditária. Existem dois tipos de Sβ talassemia: “0” e “+”. A Sβ0 normalmente se refere a forma mais severa da doença.
Quais são as complicações da doença falciforme?
Como consequência da mudança de formato e rigidez, as hemácias em meia lua podem causar obstrução dos vasos e causar falta de oxigenação na circulação sanguínea além do aumento da viscosidade das células.
A falta de circulação e falta de oxigênio nos órgãos e tecidos, resultam em diversos eventos clínicos. Entre os principais sintomas de doença falciforme estão:
- Crises de dor extremas e constantes
- Esplenomegalia (aumento do baço)
- Infecções bacterianas pelo mau funcionamento do baço
- Úlcera de perna
- Acidente vascular encefálico
- Osteonecrose
- Priapismo (ereção involuntária, dolorosa e prolongada do pênis)


Como diagnosticar a doença?
Crianças recém-nascidas que tenham doença falciforme normalmente não apresentam sintomas até o quinto ou sexto mês de vida. Então, para diagnosticar a doença de forma precoce é realizado o teste do pezinho, ou triagem neonatal.
O diagnóstico também pode ser realizado em grávidas ou em casais para aconselhamento genético através da eletroforese de hemoglobina, que identifica alterações nas estruturas dessa proteína.
A alteração no gene também pode ser diagnosticada através do sequenciamento genético que identifica a variante relacionada a doença.


O diagnóstico é importante para iniciar precocemente os tratamentos a fim de proporcionar melhor qualidade de vida, aliviar os sintomas e prevenir o agravamento da doença.
Quais são os tratamentos?
Atualmente, existem apenas quatro fármacos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento dos sintomas de doenças falciformes. Outra alternativa são as transfusões de sangue, que podem ser realizadas para tratar e prevenir complicações da doença e fornecer hemácias saudáveis para o eficiente transporte de oxigênio.
Até o momento, único tratamento que proporciona a cura da doença falciforme é o transplante de sangue ou medula óssea. No entanto, essa terapia enfrenta alguns problemas como a dificuldade de encontrar doadores compatíveis, risco de efeitos colaterais graves, entre outros.
Por isso, especialistas buscam constantemente por novas alternativas como a terapia gênica. Nesse caso, é realizada a modificação ex-vivo de células-tronco hematopoiéticas por CRISPR, seguida de transplante.
Como nesse caso é utilizado células do próprio indivíduo, o tratamento pode ser realizado em todos os pacientes independente de doador. No entanto esta técnica ainda está sendo aprimorada e estudada quanto a sua eficácia e segurança.
Quadro da doença no Brasil
Acredita-se que a hemoglobina S tenha surgido no continente africano e algumas partes do continente asiático. Sua chegada ao Brasil ocorreu através da vinda forçada dos africanos durante o período da escravidão.
O longo período de escravidão no Brasil, que durou cerca de 300 anos, somado a miscigenação do povo brasileiro, refletiu na ampla distribuição do gene no país.
Portanto, embora em geral esteja relacionada a etnia, sendo mais comum em afrodescendentes, a doença falciforme requer atenção de toda a população.
Existem fatores moduladores da doença tais como a alfa talassemia, o mecanismo fisiopatologico è complexo com liberação de proteinas inflamatorios e protromboticas, lesao endotelial e reduçõ do oxido nitrico
Parabéns pela Reportagem, excelente conteúdo que foi explicado de forma simples e completa.
Muito obrigado.
Nós que agradecemos por nos acompanhar, Dominique!