Líquor: O que é e Como analisar?

O Líquor auxilia na homeostase do sistema nervoso. Entenda alguns dos aspectos clínicos do LCR e como ele pode ser analisado.
Médico observando representação do cérebro no computador

As meningites podem ser diagnosticadas através da análise laboratorial do Líquor, ou Líquido Cefalorraquidiano. Estas análises investigam dados bioquímicos, celulares e de identificação de um possível patógeno.

Entenda como o sequenciamento genético pode auxiliar no diagnóstico de doenças através da análise do líquor. Neste artigo falamos sobre o que é o Líquido Cefalorraquidiano, quais suas funções e quais tipos de análises podem ser realizadas com este material.

O que é o líquor?

O líquor é o fluido presente no cérebro e na medula espinhal de todos os vertebrados. Também conhecido como Líquido Cefalorraquidiano (LCR). Este fluido é produzido por células especializadas, chamadas ependimárias, presentes nos ventrículos cerebrais.

Este líquido é composto por água, proteínas em baixa concentração, glicose, íons e neurotransmissores e ocupa os espaços subaracnóides do cérebro e da medula espinhal. Dessa forma, o LCR preenche os espaços ventriculares e os sulcos do cérebro, além dos canais centrais da medula espinhal.

Qual a função do líquor?

As funções vitais do líquor incluem nutrir o sistema nervoso central, bem como retirar subprodutos do metabolismo e fornecer uma proteção física contra impactos. 

Dessa maneira, é possível entender as funções primordiais do LCR a partir da manutenção da homeostase do Sistema Nervoso Central. Isto se faz necessário tanto por questões físicas quanto pelos altos níveis metabólicos existentes no sistema nervoso.

Estima-se que o volume de LCR presente em nosso corpo seja próximo de 150 mL em adultos. Fato é que este líquido é completamente renovado cerca de 4 vezes por dia, fazendo com que a produção diária de LCR seja em torno de 600 mL.

A seleção deste traço pela evolução das espécies demonstra as grandes necessidades metabólicas do sistema nervoso de um ser humano: ao passo que uma grande quantidade de nutrientes é necessária para seu funcionamento, um sistema de “descarte de resíduos” também torna-se imprescindível.

Para além das questões moleculares, é importante ressaltar que o líquor fornece um meio de acondicionamento do cérebro no crânio, protegendo-o contra impactos. Além disso, o cérebro fica suspenso neste líquido, de tal forma que seu peso efetivo (1500g) é reduzido para 50g. 

O controle da dinâmica dos fluidos e da pressão intracranial, portanto, permite que o cérebro não fique assentado sobre seu próprio peso, o que impediria o fluxo sanguíneo.

Que tipo de análises podem ser feitas com o líquor?

O líquor pode ser empregado em: 

  • Análises bioquímicas;
  • Análises citológicas;
  • Exames de microscopia; 
  • Culturas celulares;
  • Análises moleculares.

Muitas das análises tradicionalmente realizadas com o LCR foram gradualmente sendo substituídas por exames de imagem. Apesar disso, o desenvolvimento de novas tecnologias permitiu o surgimento de novas maneiras de analisar clinicamente o Líquido Cefalorraquidiano.

O perfil citobioquímico, por exemplo, fornece informações essenciais para a diferenciação de meningites virais, bacterianas e fúngicas. Dessa forma, a integração dos dados obtidos pelos exames bioquímicos e citológicos continua sendo um destaque entre as análises realizadas com o líquor.

Testes moleculares na análise do líquor

Os testes moleculares, que visam a detecção de sequências-alvo de material genético, têm sido exponencialmente empregados na análise do líquor. Estas metodologias de análise utilizam técnicas como a PCR e o NGS para pesquisar principalmente a presença de sequências referentes a agentes infecciosos.

Algumas plataformas de PCR apresentam altas taxas de sensibilidade e especificidade, aliadas a um baixo custo operacional, especialmente quando realizada no modelo multiplex. 

Quando em comparação com os métodos tradicionais, o diagnóstico molecular pode diminuir encargos sociais e financeiros, bem como otimizar a terapia medicamentosa.

As plataformas modernas de PCR em multiplex permitem a detecção de até 14 alvos diferentes, permitindo ao clínico uma possibilidade vasta de hipóteses a serem testadas.

O NGS na análise do líquor

O Sequenciamento de Nova Geração (NGS) traz uma vantagem única para a análise do líquor: o não direcionamento através da análise metagenômica. 

Com esta técnica, é possível que clínicos investiguem o LCR sem a necessidade de uma hipótese de diagnóstico. Isso significa que o NGS é capaz de obter dados sobre a presença de vírus, fungos e bactérias em uma amostra de líquor sem que o médico decida por investigar um ou outro microrganismo específico, algo que acontece com os exames de PCR.

Tal possibilidade é especialmente útil no contexto das meningites. Por meio da amplificação randômica de DNA, esta é mais uma das metodologias que um laboratório pode empregar para a análise do Líquor.

Quais são as doenças que o exame pode detectar?

De modo geral, os exames tradicionais de líquor, em união com as técnicas moleculares de detecção de patógenos, são capazes de identificar uma série de doenças. 

Algumas das principais doenças infecciosas estudadas pela análise do líquor são as meningites. Estas infecções podem surgir a partir de vários microrganismos, como bactérias, vírus, fungos, parasitas, amebas e outros.

Sem exames laboratoriais que indiquem alterações citológicas, bioquímicas e mesmo sem a identificação precisa dos agentes etiológicos, pode ser difícil para o clínico realizar o diagnóstico preciso. 

Em alguns casos, ainda, diferentes meningites podem produzir um conjunto muito semelhante de sintomas, sinais e alterações bioquímicas. Casos deste tipo são especialmente beneficiados pelas técnicas de metagenômica, capazes de identificar microrganismos sem a necessidade de um direcionamento (hipótese).

A detecção de outras condições também pode ser beneficiada pela análise do líquor, como:

  • Outras infecções do Sistema Nervoso Central;
  • Doenças autoimunes, como a Síndrome de Guillain-Barré;
  • Hemorragias do sistema nervoso;
  • Esclerose Lateral Amiotrófica;
  • Câncer.

Conclusão

O Líquido Cefalorraquidiano é o fluido presente na camada subaracnóidea do das meninges cerebrais e nos canais centrais de medula espinhal. Este líquido serve como solvente para açúcares, proteínas, íons e neurotransmissores e é responsável por fazer com que nutrientes cheguem ao sistema nervoso, bem como por eliminar os produtos finais do metabolismo deste sistema.

A análise do LCR é essencial no diagnóstico de algumas doenças, como as meningites. Dessa forma, os exames laboratoriais tradicionais e os exames moleculares fornecem informações importantes para o diagnóstico preciso destas doenças. 

A metagenômica pode substanciar casos complexos, em que outras análises não forneçam evidências suficientes.

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