Hematologia: o que é e principais doenças

Hematologia é o ramo da medicina que estuda assuntos relacionados ao sangue. Conheça quais são as principais doenças hematológicas e como diagnosticar.
hematologia tudo sobre - imagem ilustrativa do sangue humano

Nosso sangue é composto por mais de 20 trilhões de células e a hematologia é responsável pela investigação destas células, da maneira com que são formadas e dos órgãos em que este processo acontece.

Quer saber mais sobre hematologia? Acompanhe nosso texto para entender o que ela é e quais são algumas das doenças e exames relacionados com esta área da medicina!

O que é a hematologia?

A hematologia é o ramo da medicina que estuda o sangue e doenças hematológicas, como o que as causam, como tratá-las e o que pode ser feito para prevenir e diagnosticar sua ocorrência. 

Para isso, hematologistas utilizam métodos clínicos e laboratoriais que permitem a investigação dos elementos figurados existentes no sangue, bem como da hematopoiese e dos órgãos em que este processo ocorre.

Assim como na oncologia, que é influenciada e exerce influência sobre a hematologia, este ramo da medicina é impactado pelo avanço das tecnologias e metodologias da biologia molecular, imunologia e bioinformática.

São estes avanços que permitem a experimentação de novos agentes farmacêuticos, capazes de aumentar a habilidade dos hematologistas de tratar e curar doenças hematológicas.

Exemplos disso podem ser observados nas recentes terapias com células CAR-T e também no tratamento da Leucemia Mielóide Crônica, cuja taxa de sobrevida aumentou em 70% nas últimas décadas com o advento de medicamentos utilizados como Inibidores da Tirosina Quinase.

Definições da hematologia

Para compreendermos um pouco melhor as doenças e os exames envolvidos com a hematologia, é fundamental o entendimento de alguns conceitos, como: 

  • Medula Óssea;
  • Glóbulos Vermelhos;
  • Hemoglobina; 
  • Glóbulos Brancos;
  • Plaquetas; 
  • Plasma Sanguíneo. 
O que é medula óssea?

A medula óssea é um líquido semissólido encontrado no interior dos ossos, no qual acontece a hematopoiese, que é conceituada como a produção e diferenciação das muitas células encontradas no sangue. Estas células são chamadas de elementos figurados do sangue e são descritas na sequência.

Quais são os elementos figurados do sangue?

Eritrócitos (hemácias), leucócitos (glóbulos brancos) e trombócitos (plaquetas).

O que são eritrócitos ?

Eritrócitos (também chamados de glóbulos vermelhos ou hemácias) são células anucleares portadoras de hemoglobina, uma proteína capaz de complexar-se ao oxigênio molecular (O2). Dessa maneira, as hemácias são responsáveis por transportar oxigênio para nossos tecidos, permitindo que as células realizem a respiração celular.

O que são leucócitos?

Leucócitos (também conhecidos por glóbulos brancos), são as células do sistemas imunológicos dos animais. Elas existem sob diferentes formas e tamanhos e possuem diferentes funções que objetivam a defesa do organismo. Os leucócitos incluem linfócitos, neutrófilos, macrófagos e diversas outras células.

O que são plaquetas (trombócitos)?

Trombócitos (plaquetas) são fragmentos celulares cuja função é realizar os processos de adesão, ativação e agregação, que resultam na formação de coágulos. Trombócitos atuam em conjunto com fatores de coagulação e, assim como as hemácias, são anucleados.

Do que o plasma sanguíneo é composto?

O plasma sanguíneo é composto por tudo aquilo que não são os elementos figurados do sangue. O plasma é composto majoritariamente por água, eletrólitos, proteínas, hormônios e glicose. Este é, portanto, o meio pelo qual as células transitam em nosso organismo.

Sendo assim, podemos caracterizar o sangue como sendo um fluido composto por plasma, no qual estão suspensos os elementos figurados (células e plaquetas).

processo de centrifugação e composição do sangue humano na hematologia

Quais são algumas das principais doenças hematológicas?

O Manual de Hematologia de Williams traz sete categorias de doenças e distúrbios hematológicos, classificados de acordo com o tipo de célula ou com o tipo de linhagem hematopoiética envolvida na patologia. São os distúrbios relacionados a:

  • Glóbulos Vermelhos (Hemácias);
  • Granulócitos;
  • Monócitos e Macrófagos;
  • Mielóides Clonais;
  • Linfóides Clonais;
  • Linfóides Policlonais;
  • Plaquetas e da Hemostase;
  • Proteínas de Coagulação.

Uma segunda forma, mais abrangente, de classificar os distúrbios hematológicos pode ser feita considerando-se apenas a classificação básica das diferentes células (e fragmentos celulares) do sangue:

  • Distúrbios dos eritrócitos;
  • Distúrbios dos leucócitos;
  • Distúrbios das trombócitos.

Acompanhe a seguir uma pequena seleção de doenças e distúrbios hematológicos.

Doenças dos eritrócitos

Entre as doenças envolvendo as hemácias, destacam-se as anemias e as eritrocitoses, que podem ser:

  • Absolutas: quando de fato existe um aumento ou diminuição do número/volume das células ou
  • Relativas: quando é o volume do plasma que aumenta ou diminui.

Anemia

As anemias são os distúrbios hematológicos mais comuns e são caracterizadas pela diminuição da capacidade do sangue de transportar oxigênio. Quando absolutas, elas podem ser geradas a partir do aumento da destruição das hemácias, pela diminuição da produção das mesmas ou pela perda de sangue.

Entre as formas adquiridas, a mais comum é a chamada anemia ferropriva, que acomete indivíduos em que existem poucos íons de ferro sendo aproveitados pelas hemoglobinas.

Algumas anemias, entretanto, podem ser hereditárias, como é o caso da anemia falciforme, em que as hemácias possuem forma de foice e, consequentemente, não conseguem funcionar adequadamente.

Eritrocitose

As eritrocitoses, por outro lado, são caracterizadas pelo aumento patológico do número de eritrócitos no sangue. Assim, seu principal efeito é o aumento da viscosidade do sangue, o que pode gerar diversas complicações.

De modo semelhante às anemias, as eritrocitoses absolutas também podem ser adquiridas ou hereditárias. Adicionalmente, elas podem ser subcategorizadas em:

  • Primárias: quando o aumento é causado por uma resposta anormal da medula óssea à eritropoietina ou
  • Secundárias: quando a secreção aumentada de eritropoietina é a causa do aumento.

A eritrocitose primária mais comum é chamada de Policitemia Vera, um neoplasma mieloproliferativo. Indivíduos com esta condição possuem mutações no gene JAK2, o que os leva a produzirem proteínas capazes de superestimular a produção de eritrócitos na medula óssea. 

Embora existam poucos dados, estudos indicam que o tempo médio de sobrevida é de 24 anos para indivíduos com menos de 60 anos.

Por fim, eritrocitoses secundárias são respostas apropriadas (ou não) à hipóxia. A causa mais comum delas é a aclimatação a grandes altitudes, onde a rarefação do ar induz o organismo a compensar por isso através do aumento da produção de eritropoietina.

Doenças dos glóbulos brancos (leucócitos)

As doenças envolvendo leucócitos também podem ser observadas a partir da proliferação patológica de células do sistema imune ou da diminuição do número delas em nossa circulação sanguínea.

Entre as doenças proliferativas, é possível destacar os linfomas e as leucemias, que são tipos de neoplasias malignas (câncer). Nos linfomas, as neoplasias acontecem entre linfócitos presentes em linfonodos, enquanto nas leucemias esse evento acontece entre diferentes tipos celulares (inclusive linfócitos), presentes na corrente sanguínea ou na medula óssea.

A diminuição do número de leucócitos circulantes (leucopenia) também pode ser observada em condições patológicas, como na anemia aplásica e em doenças infecciosas como a AIDS.

Doenças das plaquetas (trombócitos)

A trombocitopenia é a diminuição do número de plaquetas em nosso sangue. Esta manifestação pode acontecer em função da baixa produção de plaquetas pela medula óssea ou mesmo pela destruição exacerbada delas.

A trombocitopenia é uma característica presente em algumas doenças infecciosas, podendo ser observada na Hepatite C e na AIDS, bem como em condições idiopáticas (de causa desconhecida), como na Púrpura Trombocitopênica Idiopática.

Esta manifestação também é observada em condições congênitas, como na Síndrome de Wiskott-Aldrich; em condições adquiridas causadas por medicamentos, como anti-hipertensivos e em condições nas quais o baço realiza o sequestro destes fragmentos celulares, o que é geralmente causado pela insuficiência hepática.

Uma vez que as plaquetas são fundamentais para a coagulação sanguínea, doenças envolvendo formas graves de trombocitopenia podem (mas não necessariamente) gerar hemorragias. Dessa forma, assim como para toda anomalia hematológica, é imprescindível que indivíduos afetados sejam acompanhados por um médico.

Quais são os exames feitos na hematologia?

A hematologia se utiliza de diversos exames para realizar a investigação e o diagnóstico de doenças. Um dos exames mais comuns certamente é o hemograma, no qual diferentes características hematológicas são investigadas.

No hemograma, a contagem de glóbulos vermelhos, brancos e de plaquetas pode ser feita de maneira manual ou automatizada. No primeiro caso, analistas depositam uma pequena porção da amostra de sangue em uma câmara de Neubauer, uma espécie de lâmina de microscopia em que existem referenciais de área para que a contagem seja realizada.

Alguns laboratórios também dispõem de analisadores hematológicos automatizados, que podem fazer uso de diferentes técnicas (como a citometria de fluxo) para realizar a contagem e também a análise de outros parâmetros presentes no hemograma.

Estes parâmetros incluem, mas não estão limitados a:

  • Volume Corpuscular Médio (VCM), que calcula o volume médio dos eritrócitos da amostra;
  • Hemoglobina Corpuscular Média (HCM), que calcula a massa média de hemoglobina presente nos eritrócitos analisados;
  • Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM), que calcula a média da concentração de hemoglobina em função do volume médio dos eritrócitos da amostra;
  • Red cell Distribution Width (RDW – Amplitude de Distribuição de Eritrócitos), que mede a extensão com que o tamanho dos eritrócitos varia (anisocitose);
  • O Hematócrito, que é o volume percentual de eritrócitos em uma amostra de sangue total. 
analise sanguinea e doencas relacionadas

Coagulogramas também são exames utilizados pela hematologia. Em exames deste tipo são analisadas propriedades específicas da capacidade de coagulação de um indivíduo. 

Um exemplo de coagulograma é o Tempo Médio de Protrombina, no qual é avaliado o tempo com que uma determinada amostra de sangue demora para coagular sob condições específicas. Este coagulograma é utilizado para a investigação de fatores de coagulação.

Um terceiro tipo de exame hematológico envolve a coleta de medula óssea. Os chamados mielogramas não analisam o sangue como um todo, apenas as células produzidas na medula óssea. Eles são geralmente empregados para o diagnóstico de leucemias e outros tipos de câncer.

Por fim, é importante ressaltar que muitos exames e técnicas laboratoriais podem ser empregadas para embasar e complementar a prática clínica da hematologia. 

Embora estas úteis ferramentas sejam bastante disseminadas, devemos sempre buscar um médico para que ele realize a análise de exames hematológicos, uma vez que essa é uma prática exclusiva deste profissional.

Conclusão

A hematologia clínica é o ramo da medicina responsável pelo estudo, diagnóstico e tratamento dos estados patológicos envolvidos com anomalias presentes nas células do sangue e nas etapas de formação e maturação destas células.

O sangue é composto por células, fragmentos celulares e o plasma. Eritrócitos transportam oxigênio, enquanto leucócitos e trombócitos são responsáveis pela defesa do organismo e coagulação do sangue, respectivamente.

As doenças hematológicas podem ser categorizadas de acordo com o tipo de célula afetada. Entre as doenças envolvidas com eritrócitos, destacam-se as anemias, enquanto entre as doenças envolvidas com leucócitos os diferentes tipos de câncer, como os linfomas e leucemias, aparecem em destaque.

Diferentes exames hematológicos podem ser solicitados por um médico. Eles auxiliam a prática clínica e existem sob três principais classes: hemogramas, coagulogramas e mielogramas. 

Referências

Lichtman et al. Williams Manual of Hematology, 10th ed. McGraw Hill, 2022.

Hoffman et al. Hematology: basic principles and practice, 7th ed. Elsevier, 2018.

Tefferi A, Barbui T. Polycythemia vera and essential thrombocythemia: 2017 update on diagnosis, risk-stratification, and management. Am J Hematol. 2017.

Relacionados