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No mundo, mais de 350 milhões de pessoas vivem com algum tipo de hepatite viral e, todos os anos, mais de 1 milhão de indivíduos vão a óbito em função destas doenças ou de suas complicações.
Estima-se que 80% a 90% das pessoas com hepatite viral não têm conhecimento sobre estarem infectadas.
Quer saber mais sobre o tópico? Confira nosso texto que explica o que é uma hepatite viral, quais são os vírus envolvidos, os sintomas produzidos, os métodos de diagnóstico e como a prevenção pode ser realizada!
“Hepatite viral” é um termo genérico para um conjunto de 5 doenças, cuja principal manifestação é a inflamação do fígado em função de uma infecção viral. Estas doenças são causadas por 5 vírus diferentes que possuem tropismo (afinidade) pelo tecido hepático.
As hepatites virais e seus agentes etiológicos possuem aspectos clínicos e epidemiológicos em comum, embora cada um deles tenha particularidades que determinam o quadro da doença, sua gravidade, o modo de transmissão e as formas de prevenção.
Uma hepatite viral pode se apresentar sob a forma aguda ou crônica, o que é importante para a escolha do método laboratorial de diagnóstico e também para a escolha do tratamento.
Dentre as hepatites virais mais comuns estão a B e a C que, juntas, afetam a vida de cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. Veja na sequência quais são os vírus responsáveis por estas e outras formas de hepatite viral.
Quais são os agentes etiológicos das hepatites virais?
Os cinco vírus causadores de hepatites virais carregam um nome semelhante em virtude de seu tropismo pelo tecido hepático. Apesar disso, eles possuem características estruturais diferentes e pertencem a famílias distintas. São eles:
- Vírus da Hepatite A (HAV);
- Vírus da Hepatite B (HBV);
- Vírus da Hepatite C (HCV);
- Vírus da Hepatite D (HDV);
- Vírus da Hepatite E (HEV).
O Vírus da Hepatite B é o único que carrega material genético na forma de DNA. Todos os outros possuem RNAs de fita simples e seus genomas possuem entre 3.000 e 9.000 nucleotídeos.
Além disso, cada um destes vírus possui diferentes genótipos e alguns deles são capazes de causar zoonoses (doenças em outros animais que não o homem).
Tanto o HAV como o HEV possuem grande estabilidade fora do organismo, o que contribui para que a principal via de transmissão destes vírus seja a fecal-oral. Isso significa que os vírus excretados em fezes humanas entram em contato com a água e os alimentos consumidos pelas pessoas.
Os dois principais determinantes para esta via de contágio são:
- Falta de saneamento básico;
- Práticas inadequadas de higiene pessoal.
Além disso, o Vírus da Hepatite A pode ser transmitido pela via parenteral (através do contato com o sangue contaminado) e também pela via sexual, ainda que essas sejam formas de contaminação menos comuns deste vírus.
A transmissão do HBV se dá principalmente através da via sexual, em relações desprotegidas.
A via parenteral, como nos casos em que materiais perfurocortantes são compartilhados durante a realização de tatuagens e em procedimentos odontológicos e cirúrgicos, também é uma forma importante de transmissão deste vírus, além de ser a principal via de contaminação do HVC e HVD.
Sintomas de hepatite
Muitas das pessoas infectadas pelos vírus da hepatite humana podem apresentar sintomas brandos ou até mesmo serem assintomáticas.
Apesar disso, a progressão de cada uma das hepatites virais é bastante singular durante as fases agudas, podendo envolver formas de insuficiência hepática aguda.
As hepatites virais podem ter início abrupto e seus sintomas incluem a febre, náuseas, fadiga, fezes pálidas e a icterícia escleral (cor amarelada do globo ocular).
Para o caso da HAV, ainda, cerca de metade de todas as crianças infectadas com HAV apresentam diarréia, o que indica que a idade em que a infecção ocorre é um fator determinante para o quadro clínico desta doença.
Outros sintomas gerais também incluem:
- Vômitos;
- Fraqueza;
- Perda do apetite;
- Urina escura;
- Anorexia;
- Mal-estar geral.
Hepatite Crônica
A hepatite crônica ocorre quando a replicação viral dura mais de seis meses. Isso pode ocorrer nos casos de Hepatite C e de Hepatite B, sendo a primeira responsável pela maior parte dos casos: ao menos 75% dos casos agudos de Hepatite C cronificam, enquanto na hepatite B este número cai para cerca de 10%.
A hepatite crônica é assintomática na maior parte do tempo, entretanto, em fases avançadas muitas complicações tendem a surgir, como é o caso da fibrose e da cirrose hepática, bem como do carcinoma hepatocelular e da esplenomegalia (aumento do volume do baço).
Os sintomas produzidos pela cronificação da hepatite podem ser bem gerais, como aqueles exibidos na fase aguda da doença. Entretanto, com o desenvolvimento de complicações, outros sintomas e sinais podem surgir, como por exemplo:
- Perda de peso;
- Acúmulo de líquidos na cavidade abdominal (ascite);
- Sangramentos;
- Diminuição da função cerebral.

O diagnóstico das hepatites é realizado através de métodos laboratoriais, entretanto, alterações clínicas inespecíficas como a elevação das aminotransferases podem ser um sinal de alerta para que o clínico busque identificar a origem dessas alterações, uma vez que tratam-se de marcadores de lesão do parênquima hepático.
Para fins diagnósticos, não existem manifestações clínicas capazes de diferenciar os agentes etiológicos da hepatite viral, tornando necessária a utilização de métodos que os identifiquem através de marcadores presentes no sangue ou na saliva do paciente.
Os métodos laboratoriais majoritariamente utilizados podem ser divididos entre sorológicos e moleculares.
Os testes sorológicos visam detectar antígenos ou anticorpos, como as imunoglobulinas M e G. Uma vez que os anticorpos se manifestam em períodos específicos da doença, os ensaios sorológicos podem ser utilizados para a identificação do antígeno e também para a definição da fase atual da doença (aguda, crônica ou infecção passada) e a imunização contra os vírus da hepatite.
Sendo assim, os principais métodos sorológicos empregados no diagnóstico das hepatites virais são:
- ELISA;
- Quimioluminescência;
- Imunoensaio cromatográfico (utilizado como teste rápido).
De maneira complementar, a PCR quantitativa pode ser utilizada no diagnóstico e acompanhamento do tratamento das hepatites, uma vez que eles permitem a quantificação precisa do material genético circulante do vírus investigado.
No Brasil, a vacina contra a Hepatite B é disponibilizada de maneira gratuita para a população geral através do SUS. A vacina contra a Hepatite A também está disponível no SUS, entretanto sua aplicação é direcionada para crianças e bebês.
De maneira prática, a prevenção das hepatites virais é feita através do cuidado com a higiene pessoal, incluindo-se ai o uso de preservativos em relações sexuais e a lavagem das mãos após trocar fraldas e utilizar o banheiro e também antes do preparo de alimentos.
Alimentos a serem consumidos crus devem ser lavados com água tratada e sabão, enquanto outros alimentos devem ser bem cozidos antes de seu consumo, especialmente os frutos do mar e a carne suína.
Por fim, deve-se evitar o compartilhamento de objetos perfurocortantes, como agulhas, seringas, materiais de tatuagem e body-piercing, materiais de manicure e pedicure, lâminas de barbear e escovas de dentes.
Conclusão
“Hepatite viral” é um termo genérico para um conjunto de doenças infecciosas que causam a inflamação do tecido hepático. Os agentes etiológicos da hepatite viral consistem em cinco vírus com tropismo pelo fígado.
As hepatites virais podem ser transmitidas através de três vias principais: a fecal-oral, a sexual e a parenteral, que se dá pelo contato com fluidos biológicos infectados.
A sintomatologia das hepatites virais varia bastante e alguns indivíduos podem até mesmo serem assintomáticos por muito tempo. As principais complicações decorrentes das hepatites envolvem a cronificação, que acontece nos casos de Hepatite B e C.
A vacinação é o melhor método preventivo das Hepatites A e B, e a prevenção das outras formas de hepatite viral devem ser feitas visando minimizar o contato com o sangue e outros fluidos biológicos.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde: Manual Técnico para o Diagnóstico das Hepatites Virais. 2018.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Global progress report on HIV, viral hepatitis and sexually transmitted infections, 2021.
DUARTE, G. et al. Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: hepatites virais. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2021