Linfoma: Entenda a relação com o sistema imunológico

O linfoma é um câncer que se desenvolve quando ocorre um erro na produção de linfócitos, levando à produção de células anormais
linfoma
linfoma

O dia 15 de Setembro é considerado o Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas, para informar a população sobre os tipos e sintomas. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), mais de 14 mil pessoas devem desenvolver linfomas no Brasil neste ano.

O linfoma é mais uma das doenças na oncologia que possui carga genética e ambiental para seu desenvolvimento no paciente. Hoje, você irá entender mais a fundo os sintomas e tratamentos deste tipo de câncer, vamos começar?

O sistema linfático

O sistema linfático consiste em uma rede complexa de vasos, tecidos e órgãos e é uma parte importante do sistema imunológico e circulatório. Fazem parte do sistema linfático os órgãos linfoides, linfonodos, ductos linfáticos, tecidos linfáticos, capilares linfáticos e vasos linfáticos que são responsáveis por produzir e transportar um fluido transparente e leitoso chamado de linfa.

linfoma sistema linfático
Rede complexa do sistema linfático

A linfa é composta por leucócitos, também conhecidos como glóbulos brancos, células que tem a função de identificar e combater organismos estranhos como patógenos e células anormais ou cancerosas. Os leucócitos são diferenciados a partir de células-tronco hematopoiética (Hemocitoblastos), produzida na medula óssea.

Depois de diferenciada, estas células são classificadas em cinco principais grupos: basófilos, eosinófilos, neutrófilos, monócitos e linfócitos. Destas, os linfócitos são as células em maior circulação no sistema linfático.

Quais são os principais tipos de linfócitos?

Existem três tipos principais de linfócitos: linfócitos B, linfócitos T e células NK.

Linfócitos B:

A principal função desta célula é o reconhecimento de antígenos e a produção de anticorpos específicos. Depois de produzida na medula, estas células são transportadas através dos vasos e ficam localizadas em órgãos como baço e principalmente em linfonodos.

Na superfície dos linfócitos B existem receptores (BCR) que reconhecem moléculas estranhas ao corpo, os antígenos, como proteínas na superfície de bactérias, fungos, vírus ou outras substâncias. Após reconhecer o antígeno, uma cascata de reações leva a célula a produzir anticorpos específicos capazes de neutralizar ou destruir o agente estranho.

Linfócitos T:

Estas células são divididas e três principais classes: auxiliares, citotóxicas e supressoras. Os linfócitos T auxiliares (CD4) ou helper colaboram com os linfócitos B. Elas são capazes de controlar a ação de outras células através da produção de linfocina que sinaliza para direcionar a resposta do sistema imunológico.

Os linfócitos citotóxicos (CD8) reconhecem células anormais, como as infectadas por vírus, e secretam citotoxinas responsáveis por induzir a morte celular (apoptose). Já os supressores têm a função de inibir a resposta imune.

Os linfócitos T e B também podem se tornar células de memória, linfócitos com vida longa que respondem rapidamente a um reencontro pelo mesmo antígeno reconhecido anteriormente.

Células NK

NK vem do inglês “Natural Killer” ou exterminadoras naturais. Assim como os linfócitos T citotóxicos, as células NK também induzem a morte de células anormais como cancerosas ou infectadas por patógeno. No entanto, esta célula não precisa ser sensibilizada para agir contra células alteradas.

Célula-tronco hematopoiética linfócitos - Linfoma
Esquema de diferenciação de células a partir da célula-tronco hematopoética

O que são linfomas?

O linfoma é um câncer do sistema imunológico que se desenvolve quando ocorre um erro na produção de linfócitos, levando à produção de células anormais. Eles podem se proliferar através de divisões celulares mais rápidas ou vivendo por mais tempo do que os linfócitos normais.

Essa produção anormal é causada por uma alteração genética em um linfócito que começa a produzir cópias idênticas dela mesma, podendo disseminar para outros tecidos e partes do corpo. Os linfócitos afetados perdem suas propriedades de combate à infecção, o que aumenta a vulnerabilidade a infecções.

Assim como os linfócitos normais, os linfócitos cancerosos podem se multiplicar em vários locais do corpo como nódulos linfáticos, baço, medula óssea e em todos os outros órgãos.

Existem dois tipos principais de linfoma:

Linfoma tipo Hodgkin

Este tipo de linfoma (LH) tem a característica de se espalhar de forma ordenada através dos vasos linfáticos entre grupos de linfonodos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), linfomas tipo Hodgkin são divididos nos seguintes subgrupos:

  • Linfoma de Hodgkin clássico: que é subdividido em celularidade mista, rico em linfócitos, esclerose nodular e depleção linfocitária
  • Linfoma de Hodgkin de predomínio linfocitário nodular

Dados do INCA mostraram que, em 2020, a estimativa de novos casos foi de 2.640 pessoas e de aproximadamente 530 mortes causadas por linfoma do tipo Hodkin.

Linfoma tipo não Hodgkin:

No linfoma não Hodgkin (LNH), os linfócitos afetados começam a se multiplicar de forma anormal, acumulando em estruturas do sistema linfático, como os gânglios linfáticos.

Os LNH são considerados Indolentes quando apresentam baixa taxa de proliferação celular e raramente apresentam sintomas aparentes nas fases iniciais e Agressivos quando apresentam rápido crescimento e requer tratamento imediato.

Quais são os estágios de Linfoma não Hodgkin (LNH)?

Estágio I: Restrito a uma única região de linfonodo (I) ou o câncer invadiu um órgão ou local extralinfático (identificado com a letra “E”), mas não invadiu nenhuma região de linfonodo (estágio IE).
Estágio II: Duas ou mais áreas de envolvimento nodal no mesmo lado do diafragma (II) ou uma ou com ou sem câncer em outras regiões de linfonodos no mesmo lado do diafragma (estágio IIE)
Estágio III: Atinge áreas de linfonodos em ambos os lados do diafragma (III), possivelmente com um outras regiõs (III-E), o baço (III-S) ou ambos (III-SE).
Estágio IV: Encontrado no fígado, medula, pulmão ou outra região do corpo.   

Quais são os tipos de linfoma não Hodgkin?

•Linfoma folicular
•Linfoma linfocítico crônica/Linfoma linfocítico de pequenas células.
•Linfoma difuso de grandes células B.
•Linfoma de células do manto
•Linfoma da zona marginal
•Linfoma de células B da zona marginal esplênico
•Linfoma de células B da zona marginal nodal
•Linfoma de células B da zona marginal extranodal
•Linfoma de Burkitt
•Linfoma primário do sistema nervoso central
•Linfoma linfoplasmocítico

LNH é o tipo mais comum de linfoma infantil. Segundo o Inca, em 2020 a estimativa de novos casos foi de cerca de 12 mil e de mortes causadas por linfoma do tipo não Hodkin foi de aproximadamente 5 mil, sendo mais comum entre homens. Nos últimos 25 anos, o número de casos duplicou, principalmente entre idosos. De acordo com o Inca, as causas ainda são desconhecidas.

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Fatores de risco para linfoma

A indução da proliferação de linfócitos B aumenta a probabilidade de ocorrer um erro genético aleatório nestas células. Portanto, infecção por agentes patogênicos ou químicos potencialmente levam a mais erros.

Em casos de infecção viral, o próprio patógeno pode, ao infectar um linfócito normal, integrar seu material genético ao genoma do hospedeiro, transformando a célula em uma célula maligna capaz de autorreplicação.

Embora linfoma não seja hereditário, sua ocorrência é ligeiramente aumentada em membros de famílias com histórico de diagnóstico da doença.

Quais os principais fatores de risco para linfoma?

•Sistema imune comprometido: doenças autoimunes, uso de medicamentos imunossupressores, doenças genéticas hereditárias ou indivíduos portadores de infecção por vírus HIV.
•Exposição a altas doses de radiação
•Vírus e outros patógenos (EBV, HTLV, HHV8, Hepatite C, SV40 e Helicobacter pylori )
•Doenças inflamatórias autoimunes e crônicas (artrite reumatoide, síndrome de Sjogren e LES)
•Exposição a substâncias químicas

Como prevenir linfoma?

Segundo o Inca, não há uma forma efetiva na prevenção de linfomas. No entanto, assim como para outros tipos de câncer, manter uma alimentação e estilo de vida saudáveis e evitar a exposição a agentes carcinogênicos podem ter efeito protetor.

Sintomas da doença

Os sintomas dependem do local onde o linfoma está localizado, mas em geral alguns sinais da doença são:

  • Aumento de linfonodos (ínguas) na axila, pescoço e/ou virilha
  • Perda de peso sem causa aparente
  • Tosse, dor abdominal ou falta de ar
  • Febre
  • Suor excessivo
  • Coceira no corpo
  • Desconforto ou distensão abdominal

Como diagnosticar e tratar?

Para diagnosticar o linfoma, são realizados exames físicos com atenção aos sintomas citados anteriormente como inchaço de gânglios. Além disso, outros normalmente realizados para o diagnóstico da doença são:

  • Biópsia: Remoção de uma pequena quantidade de tecido, geralmente gânglios linfáticos, para exame ao microscópio
  • Varredura de tomografia computadorizada (TC ou CAT): captar imagens do interior do corpo por meio de radiografias tiradas de diferentes ângulos
  • Ressonância magnética (MRI): Pode ser utilizada para medir o tamanho do tumor
  • Aspiração e biópsia da medula óssea: O linfoma geralmente envolve a medula óssea, portanto, o exame pode é importante para diagnosticar a doença e seu estágio.
  • Teste molecular: Exame para identificar biomarcadores como genes ou proteínas específicos

A grande maioria de linfomas é tratada através de quimioterapia, radioterapia ou associação de imunoterapia e quimioterapia. A atenção aos sintomas e a detecção precoce do câncer em sua fase inicial aumentam consideravelmente a possibilidade de tratamento

Principais referências:

Instituto Nacional do Câncer

Singh R, Shaik S, Negi BS, et al. Linfoma não-Hodgkin: uma revisão. J Family Med Prim Care . 2020; 9 (4): 1834-1840. Publicado em 30 de abril de 2020 doi: 10.4103 / jfmpc.jfmpc_1037_19

Zapater E, Bagán JV, Carbonell F, Basterra J. Malignant lymphoma of the head and neck. Oral Dis. 2010;16(2):119-128. doi:10.1111/j.1601-0825.2009.01586.x

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