Metástase: O Que é, Causas, Sintomas e Tratamento

Metástases são a disseminação de células cancerígenas a partir de um tumor primário. Entenda o que são, como surgem e são quais suas implicações!
Imagem de células metastática

O câncer é uma anomalia celular que, segundo o Observatório Global do Câncer (GLOBOCAN), acomete a vida de aproximadamente 50 milhões de pessoas no mundo. Um dos principais fatores responsáveis pela grande maioria das mortes relacionadas ao câncer é o espalhamento de células cancerígenas do tumor primário para outras partes do corpo, a metástase.

Neste artigo, exploraremos o que é a metástase, como ela ocorre e quais são as principais estratégias de tratamento disponíveis atualmente.

O que é metástase e como ela ocorre pelo corpo?

Metástase pode ser entendida como o processo pelo qual há formação de novos tumores em regiões diferentes do tumor primário. Esse processo, o qual é um conjunto de eventos celulares, corresponde a 90% das mortes relacionadas a câncer. 

O estudo da metástase é um dos principais focos da pesquisa do câncer, com esforços contínuos para entender melhor os mecanismos moleculares envolvidos no processo e desenvolver novas estratégias para prevenir e tratar a doença metastática.

O conceito de metástase é reconhecido há séculos no mundo da medicina. Entretanto, no século 19, o Dr. Stephen Paget formulou a teoria “semente do solo” (do inglês: seed and soil). A teoria diz que as sementes (células cancerígenas) só podiam crescer em solos férteis (tecidos). 

As metástases se originam de células tumorais disseminadas (do inglês: disseminated tumor cells – DTCs) ou a partir de um grupo de células, as quais deixam o tumor primário e possuem a capacidade de sofrer alterações fenotípicas (transição epitélio-mesênquima) que podem conferir vantagens para a sua sobrevivência na “rota” até outro órgão.

Entretanto, os locais (sítios) secundários que podem sofrer metástase apresentam um padrão. Por exemplo, para o câncer de pâncreas, existem regiões do corpo que apresentam uma frequência maior de metástases. As regiões são: 

  • Estômago; 
  • Cólon;
  • Fígado; 
  • Peritônio. 

Além disso, é importante ressaltar que nem todos os cânceres irão metastizar.

A metástase segue algumas etapas primordiais para o processo de “colonização”. E, uma das etapas importantes neste processo, é a preparação dos locais secundários (preparação do nicho pré-metastático) em relação ao tumor: ou seja, “preparar o terreno”. 

A preparação do novo microambiente, o qual irá receber as DTCs, é um processo de várias etapas. 

Os tumores primários liberam quantidades significativas de vesículas extracelulares e fatores secretores que, juntos, induzem o extravasamento vascular, modificação da matriz extracelular e imunossupressão. 

As vesículas carregam mRNA de genes que atuam em processos de migração celular e metástases. Além disso, os tumores primários também podem liberar exossomos, os quais podem conter miRNA (microRNA), que também atuam como promotores da invasão. 

Quais são os processos metastáticos?

Feita a “preparação”, os processos adjacentes incluem (resumidamente): 

  • Invasão: nesta etapa, as células do tumor se desprendem de seu local de origem e começam a se proliferar em tecidos próximos, como por exemplo o tecido sanguíneo e o tecido conjuntivo. Para isso, as células tumorais secretam enzimas que lisam a matriz extracelular, permitindo o deslocamento para outros tecidos; 
  • Intravasamento: no momento em que as células permeiam outros tecidos, as mesmas podem adentrar em vasos sanguíneos e linfáticos próximos. Uma vez na corrente, as células podem invadir outras regiões do corpo; 
  • Circulação: as células cancerígenas circulam pela corrente sanguínea ou pelo sistema linfático para outros órgãos e tecidos, como pulmões, fígado e ossos.
  • Extravasamento: processo onde as células tumorais deixam o tecido sanguíneo (ou linfático) e invadem outros tecidos para formar uma nova massa tumoral;  
  • Proliferação: após a invasão com sucesso em um novo tecido, ocorre a proliferação e formação de um novo tumor.  
Ilustração animada demonstrando as múltiplas etapas de formação de uma metástase.
A formação de metástases depende de múltiplas etapas, que incluem a invasão, o intravasamento, a sobrevivência na circulação sistêmica, o extravasamento e a proliferação celular propriamente dita.

Cada uma dessas etapas exige que as células cancerígenas superem várias barreiras, incluindo a matriz extracelular, os vasos sanguíneos e o sistema imunológico. 

Após romper as inúmeras barreiras homeostáticas, as células cancerígenas chegam ao local e podem:

  • Entrar em um estado de dormência;
  • Se proliferarem;
  • Ou sofrerem morte celular.

Existem ainda evidências que demonstram que o processo de dormência pode ser imunomediado por células T e natural killer (NK), as quais podem revestir as DTCs. 

Entretanto, o mecanismo exato de como as células deixam o estado de dormência para começarem a se proliferarem em um novo tecido ainda é uma incógnita para os cientistas. 

Apesar das metástases apresentarem altos índices de mortes relacionadas ao câncer, não são todas as células que conseguem, de fato, iniciar a proliferação em um novo órgão. 

Sintomas comuns da metástase em diferentes órgãos

O câncer metastático nem sempre causa sintomas. Além disso, os sintomas podem variar de acordo com as características de localização e subtipos do câncer primário e os tecidos para os quais o câncer se espalhou. 

Mas, em geral, os sintomas incluem: 

  • Dor e fraturas para metástases ósseas; 
  • Dor de cabeça, convulsões e tonturas, em casos de metástases no cérebro; 
  • Dificuldade para respirar, para metástases no pulmão; 
  • Icterícia ou inchaço na barriga, para metástases no intestino. 
  • Cansaço; 
  • Perda de peso devido a alteração metabólica no organismo;

Fatores de risco para o desenvolvimento da metástase 

Existem diversos fatores fisiológicos e ambientais que podem aumentar as chances de desenvolver a metástase. Além disso, alguns indivíduos podem ter um risco maior ou menor de metástase. Mas, em geral, alguns fatores são: 

  • Características do tumor: aspectos como o tamanho, a localização tecidual e o tipo do tumor estão associados ao risco de metástase. Geralmente, tumores maiores e que estão em certas partes do corpo podem apresentar uma maior probabilidade de sofrerem metástase; 
  • Estágio do câncer: este fator está relacionado ao quão avançado o tumor se encontra. Câncer em estágio mais avançado, possui maior probabilidade de metastizar; 
  • Sistema linfático: as células cancerígenas podem se espalhar pelo sistema linfático, e a presença de células cancerígenas nos gânglios linfáticos próximos ao tumor primário pode aumentar o risco de metástase;
  • Inflamação: A inflamação crônica pode criar um ambiente favorável para a disseminação de células cancerígenas.
  • Predisposição genética: algumas mutações genéticas podem aumentar o risco de câncer e metástase. Por exemplo, mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 estão associadas a um risco aumentado de câncer de mama e ovário, e mutações no gene TP53 estão associadas a um risco aumentado de muitos tipos de câncer; 
  • Idade e saúde geral: A idade avançada e a saúde geral precária também podem aumentar o risco de câncer e metástase.

A presença de qualquer um desses fatores não significa necessariamente que a metástase ocorrerá, mas pode aumentar a probabilidade de isso acontecer.

Métodos de diagnóstico e estadiamento da metástase

Em virtude das características tumorais anteriormente mencionadas, o diagnóstico do câncer pode variar de indivíduo para indivíduo. De um modo geral, os exames de diagnóstico incluem:

  • Exames por imagem, como radiografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e “tomografia por emissão de pósitrons” (partícula radioativa), que podem auxiliar na detecção de metástases. Esses testes podem indicar crescimentos anormais em inúmeras partes corpóreas além de determinarem a extensão da doença; 
  • Biópsia, que consiste na remoção cirúrgica de uma pequena amostra tecidual seguida de sua análise microscópica de modo a avaliar a presença de células oncóticas;
  • Exames de sangue, que podem ser empregados para mensurar níveis de marcadores oncóticos ou outros agentes indicativos da presença do câncer;
  • Análise do perfil molecular para verificar a composição genética do tumor. Essa estratégia pode auxiliar a determinar o melhor manejo clínico do paciente, bem como a prever a possibilidade de uma metástase.

Alinhado a estes exames, também há o sistema de “estadiamento de metástase”. Esse sistema é um conjunto de avaliações utilizado para descrever a extensão da metástase. 

Em alguns casos, o câncer metastático pode estar limitado a um único local ou a um pequeno número de locais no corpo, enquanto em outros casos pode ter se espalhado amplamente por todo o corpo, afetando vários órgãos e tecidos.

O sistema de estadiamento mais comumente usado é o sistema TNM (do inglês: Tumor, Node, Metastasis). 

O sistema TNM atribui um número ou letra para descrever o tamanho do tumor primário (T), se o câncer se espalhou para os linfonodos próximos (N) e se o câncer se espalhou para órgãos ou tecidos distantes (M).

A combinação de T, N e M fornece um estágio geral para o câncer, variando do estágio 0 (câncer in situ) ao estágio IV (câncer avançado que se espalhou para órgãos distantes).

Câncer oligometastático

Em 1995, Hellman e Weichselbaum apresentaram ao mundo um novo entendimento sobre a metástase e cunharam o termo “câncer oligometastático”. 

Este é um termo usado para descrever o câncer que se espalhou de seu local primário para um número limitado de locais distantes, geralmente 1-3 metástases. 

Ao contrário do câncer metastático generalizado, em que células malignas se disseminaram para vários locais do corpo, acredita-se que o câncer oligometastático represente um estágio intermediário da progressão do câncer. 

Compreender os mecanismos moleculares destes subtipos tumorais pode auxiliar na elaboração de novas terapias direcionadas às metástases. 

Opções de tratamento para a metástase

Os tratamentos aplicados para as metástases são, em princípio, os mesmos direcionados para o tumor primário. Porém, a escolha da abordagem para o tratamento será escolhida baseada em vários fatores. Além disso, os tratamentos são aplicados em virtude às necessidades individuais de cada paciente. 

As abordagens para o tratamento podem ser por meio de:

  • Cirurgia: utilizada para remoção de tumores metastáticos caso esteja bem localizado e não tenha se propagado para outras regiões do corpo. Além disso, métodos cirúrgicos podem ser aplicados para tumores primários e, consequentemente, retardar a progressão da metástase;  
  • Radioterapia: células cancerígenas podem ser eliminadas por meio de radiação. Também é aplicada em casos de metástases localizadas que não tenham se propagado. Além disso, sintomas como a dor podem ser aliviados por meio de radioterapia. 
  • Quimioterapia: tratamento pelo qual o uso de compostos terapêuticos são utilizados para conter o câncer;
  • Imunoterapia: tratamento que usa células do sistema imunológico, as quais são coletadas do paciente e posteriormente modificadas para atacar as células cancerígenas. Pode ser usado para tratar certos tipos de câncer metastático, como melanoma e câncer de pulmão.
  • Terapia direcionada: a terapia direcionada usa drogas que visam especificamente as células cancerígenas e poupam as células saudáveis. Pode ser usado para tratar certos tipos de câncer metastático que possuem mutações genéticas específicas.
  • Tratamento hormonal: existem alguns tipos de cânceres (ex: próstata e mama) que utilizam hormônios para se proliferarem. Assim, tal método utiliza aplicações que interferem no comportamento dos hormônios. 

Cuidados paliativos para pacientes com metástase

Apesar do termo remeter ao estágio terminal de determinada doença, os cuidados paliativos também são uma forma de tratamento para pacientes com câncer metastático.

Estes cuidados são reconhecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que define as práticas como a assistência mediada por uma equipe multiprofissional que tem como objetivo mitigar a dor e outros sintomas físicos, sociais e psicológicos. 

Alguns dos aspectos-chave dos cuidados paliativos para pacientes com câncer metastático são:

  • Manejo dos sintomas: O objetivo dos cuidados paliativos é aliviar os sintomas associados ao câncer, como dor, náusea e fadiga. Os especialistas em cuidados paliativos podem fornecer medicamentos e outras terapias para controlar esses sintomas de forma eficaz.
  • Apoio emocional: Pacientes com câncer metastático geralmente experimentam sentimentos de ansiedade, depressão e medo. Os especialistas em cuidados paliativos podem fornecer apoio emocional e aconselhamento para ajudar os pacientes a lidar com essas emoções.
  • Comunicação e tomada de decisão: Os especialistas em cuidados paliativos podem ajudar os pacientes e suas famílias com decisões difíceis sobre opções de tratamento, cuidados de fim de vida e outras decisões importantes.
  • Apoio espiritual e cultural: Os cuidados paliativos também podem fornecer apoio aos pacientes e suas famílias com base em suas crenças espirituais e culturais.

Prevenção da metástase e hábitos saudáveis

Mas, existem alguma ação ou hábitos que podemos ter para prevenir a disseminação do câncer em nosso corpo?

Pode parecer óbvio mas talvez não muito praticado, o hábito de ir rotineiramente ao médico pode ajudar na detecção precoce de um câncer e, consequentemente, uma metástase. 

Quando o câncer é detectado em um estágio inicial ou em estágios que possa ser controlado, o risco de metástase é menor e as terapias para tratamento podem apresentar efeitos colaterais menos intensos. 

Além disso, o estilo de vida importa! Hábitos como fumar, se expor ao sol sem proteção solar, consumir alimentos ultraprocessados e diversos outros hábitos contribuem para o desenvolvimento de câncer. 

Assim, mesmo que pareça difícil ou cansativo, tente levar uma vida mais saudável. Vá ao médico, pratique exercícios, beba água. Além de reduzir os riscos de desenvolver um câncer, sua autoestima também irá melhorar. 

Conclusão

Infelizmente, a metástase é uma característica agressiva e presente em diversos tipos de cânceres. 

Embora a prevenção da metástase seja um desafio significativo devido aos mecanismos moleculares envolvidos, ainda assim existem algumas medidas que nós podemos tomar por nós mesmos. E, tais medidas, estão associadas ao estilo de vida que levamos. 

Mas, há uma luz no fim do túnel: as pesquisas de novos tratamentos e terapias para câncer metastático não param. Todo dia, um novo insight, uma nova descoberta. E, para uma doença cruel como o câncer, cada passo é essencial. 

Nós, cientistas, não iremos desistir de lutar arduamente para encontrar uma cura definitiva. E, também fica um apelo para os acometidos e para a sociedade em geral: não desistam da ciência. 

Referências

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