Você sabia que com Testes Genéticos Pré-implantacionais (PGT) embriões gerados por Fertilização In Vitro (FIV) podem ser testados para centenas de doenças e distúrbios antes mesmo de serem inseridos? Estas técnicas inovadoras já são realidade nos consultórios de embriologia.
Entenda como funciona o PGT! Neste texto, falamos sobre suas definições e tipos, além de doenças relacionadas e indicações de realização.
O que é o exame PGT?
O Teste Genético Pré-implantacional (PGT) é um procedimento utilizado no contexto da Fertilização In Vitro. Com ele, é possível realizar o diagnóstico de doenças e distúrbios genéticos antes da implantação do embrião no útero (transferência).
Em outras palavras, o PGT viabiliza o Diagnóstico Genético Pré-Implantacional (PGD), realizado com um embrião.
Esta Tecnologia de Reprodução Assistida fornece informações sobre o código genético do embrião. Dessa forma, a tecnologia é capaz de auxiliar na tomada de decisão dos pais e médicos, além de garantir maior chance de sucesso reprodutivo na FIV. Atualmente, dezenas de doenças podem ser detectadas a partir deste procedimento.
De maneira prática, o PGT é realizado após a Fertilização In Vitro propriamente dita, ou seja, após a combinação em laboratório de um espermatozóide com um óvulo. Com a formação do embrião, é possível realizar uma biópsia deste, ou seja, coletar uma pequena amostra de células a serem analisadas por meio de diferentes métodos de Biologia Molecular.

Algumas das doenças e condições genéticas detectados por esse exame são:
- Síndrome de Down;
- Síndrome do X Frágil;
- B-Talassemias;
- Anemia falciforme;
- Anemia de Fanconi.
Adicionalmente, os testes genéticos pré-implantacionais também podem ser utilizados para gerar descendentes capazes de fornecer células tronco para um irmão afetado por doença grave, como uma leucemia (transplante alogênico de células tronco hematopoiéticas). Em alguns países, ainda, estes testes são realizados para a escolha do sexo do embrião a ser transferido.
Conheça, a seguir, os tipos de PGT mais comumente utilizados na reprodução assistida.
PGT-A
As aneuploidias são uma das mais comuns alterações genéticas presentes em embriões pré-implantacionais e também uma das principais causas de falha na Fertilização In Vitro. Dessa forma, se faz necessário um exame capaz de detectar este tipo de alteração genética, papel cumprido pelo PGT-A.
Aneuploidias são caracterizadas por um número diferente de cromossomos.
Os testes genéticos pré-implantacionais para aneuploidias, portanto, permitem identificar embriões cromossomicamente saudáveis. Desta forma, o exame aumenta a taxa de sucesso da implantação uterina do embrião, bem como reduz o risco de interrupção involuntária da gravidez.
Quando baseado em NGS, este exame quantifica não apenas variações no número de cópias cromossômicas com alta resolução, mas também fornece dados sobre a presença de mosaicismo em todos os cromossomos.
As condições genéticas detectadas por PGT-A incluem:
- Síndrome de Down;
- Síndrome de Turner;
- Síndrome de Edwards;
- Síndrome de Patau.
PGT-M
Uma segunda modalidade de testes genéticos pré-implantacionais envolve a busca por variantes genéticas reconhecidamente patogênicas, especialmente aquelas responsáveis por causar doenças monogênicas.
Em outras palavras, o PGT-M é capaz de diagnosticar doenças causadas pela alteração patológica de um único gene, outrora chamadas de doenças mendelianas.
Embriões vindos de progenitores com familiares afetados por este tipo de doença são particularmente beneficiados por este teste. Isso acontece porque algumas dessas doenças comportam-se de maneira recessiva, ou seja, manifestam-se apenas com a presença de dois alelos disfuncionais de um mesmo gene.
Dessa forma, pais não afetados podem dar origem a um filho afetado se ambos transmitirem alelos que resultem no mau funcionamento de um gene. Em tese, qualquer doença monogênica pode ser diagnosticada por esta técnica, desde que o gene afetado seja conhecido.
Algumas das doenças que podem ser detectadas por PGT-M são:
- Fibrose cística;
- ꞵ-Talassemia;
- Anemia falciforme;
- Anemia de Fanconi;
- Doença de Huntington;
- Distrofia Muscular de Duchenne.
PGT-SR
Rearranjos estruturais são caracterizados por deletar, duplicar, inverter e translocar porções estruturais de um ou mais cromossomos. Quando ocorrem de maneira desbalanceada, estes rearranjos são uma importante fonte de falha na FIV, bem como de interrupção involuntária da gravidez.
Em vista disso, PGTs-SR (onde SR significa “Structural Rearrangements”) contribuem positivamente para o sucesso da implantação e gestação saudável do embrião no contexto da reprodução assistida.
PGT-HLA
Os testes genéticos pré-implantacionais também são realizados visando a análise de histocompatibilidade (PGT-HLA). A principal aplicação disso é permitir a gestação de um embrião capaz de doar células tronco para um irmão com câncer.
Atualmente, alguns tipos de cânceres hematológicos podem ser curados por meio do Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas. Apesar disso, a compatibilidade das células do doador com as do receptor são um grande impedimento para a realização do procedimento.
Em linhas gerais, o melhor doador possível neste cenário é um irmão cujo sistema de Antígenos Leucocitários (HLA) seja idêntico ao do indivíduo afetado (transplante alogênico). Entretanto, isso dificilmente é observado entre irmãos não-gêmeos.
Nesse sentido, alguns pais optam pela fertilização in vitro para dar origem a um indivíduo capaz de doar células-tronco histocompatíveis para um irmão com leucemia, por exemplo. Para que isso aconteça, portanto, é necessária a verificação do sistema de HLA do embrião a ser transferido, o que acontece por meio do PGT-HLA.
Algumas das doenças que podem ser curados com auxílio desta técnica são:
- Leucemias;
- Linfomas;
- Mielomas;
- Imunodeficiências primárias;
- Anemias aplásicas;
- ꞵ-Talassemia;
- Anemia falciforme.
Qual a melhor opção?
A realização de um teste genético pré-implantacional depende da disponibilidade e vontade comum entre pais e médicos. Cada caso de Fertilização In Vitro é singular, e é o médico responsável por ele quem deve direcionar os exames a serem realizados.
Dessa forma, a realização de PGTs dependerá de aspectos que incluem a idade dos pais, o histórico médico familiar e também o objetivo da gestação. Como colocado anteriormente, algumas gestações geradas por FIV objetivam a cura de doenças de um filho já nascido, o que modifica as estratégias de análise genética a serem utilizadas.
Em todo caso, a realização de tais testes deve ser cautelosamente definida, uma vez que embriões contém uma quantidade limitada de material genético disponível para análise.
Referências
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