Poliomielite: Causa, Sintomas e Alta nos casos

A Poliomielite é uma doença infecto-contagiosa causada pelo vírus Poliovirus. Entenda a alta nos casos e saiba mais sobre a doença.

A Poliomielite é uma doença conhecida pelos seres humanos desde a antiguidade. Marcada pela possibilidade do desenvolvimento de paralisia, esta doença vem sendo combatida com vacinas desde a década de 50. 

Apesar disso, a baixa cobertura vacinal no Brasil acende um alerta para o risco de reintrodução do vírus no país, que não registra novos casos da doença desde 1989.

Saiba mais sobre a Poliomielite! Neste texto, abordamos definições, causas, sintomas, patogênese, vacinação e discutimos sobre as implicações da baixa cobertura vacinal contra a doença.

O que é Poliomielite?

A Poliomielite (ou pólio) é uma doença infecto-contagiosa viral causada pelo Poliovirus, um enterovírus transmitido por rota fecal-oral. O termo ‘poliomielite’ refere-se ao estado inflamatório que pode ser gerado na medula espinhal pela infecção.

Não à toa, esta doença é conhecida por alguns como a doença da paralisia infantil. Como veremos na sequência, alguns casos desta doença são marcados pela presença do vírus em neurônios motores. Essa característica causa a destruição dessas células ao final da replicação viral, gerando paralisia muscular dos membros inferiores.

As causas da Poliomielite

A poliomielite é causada por um subtipo de Enterovirus C (tal qual os Coxsackie A), chamado de Poliovírus. Este é um vírus de RNA de fita simples e polaridade positiva ([+]ssRNA), cujo genoma é composto por cerca de 7.500 nucleotídeos e que possui três sorotipos conhecidos.

Uma segunda característica relevante deste membro da família Picornaviridæ é o fato de que seu principal sítio de infecção é o trato gastrointestinal, em especial a orofaringe e os intestinos (além do tecido linfático a eles associado). 

Dessa forma, é possível afirmar que a principal rota de transmissão do vírus é a fecal-oral, ainda que a transmissão oral-oral também possa existir. 

Sendo assim, locais com más condições de saneamento básico, bem como maus hábitos de higiene, propiciam o contato com água e alimentos contaminados com poliovírus.

Sintomas da poliomielite em crianças

A maioria (~70%) dos casos de infecção por poliovírus não apresenta qualquer tipo de sintoma (assintomático). Em cerca de 25% dos casos, entretanto, sintomas não específicos podem surgir, o que inclui:

  • Cefaléia (dores de cabeça);
  • Mialgia (dores musculares);
  • Dor de garganta;
  • Fadiga;
  • Náusea;
  • Febre.

Com a progressão da doença, sintomas associados à formas mais severas da poliomielite (como a meningite asséptica) também podem surgir, incluindo-se aí:

  • Dor intensa;
  • Aumento da sensibilidade dos órgãos e sentidos (hiperestasia);
  • Sensações de formigamento (parestesia);
  • Espasmos musculares;
  • Rigidez do pescoço, das costas ou das pernas.

Por fim, na poliomielite paralítica (até 1% dos casos) ocorre a paralisia total ou parcial dos membros inferiores, o que pode ser temporário ou permanente. Além disso, em casos ainda mais graves, pode ocorrer fraqueza nos músculos da face e nos músculos da respiração, levando o indivíduo a óbito. 

Progressividade da doença

A fisiopatologia da poliomielite é descrita de acordo com a fase da doença. Como colocado anteriormente, a infecção inicial pelo Poliovírus se dá na orofaringe e nos intestinos; este estágio é chamado por alguns autores de ‘fase alimentar’ e raramente produz sintomas.

Em alguns casos, as partículas virais conseguem acesso aos linfonodos mesentéricos e cervicais (fase linfática), o que fornece acesso também à corrente sanguínea, gerando uma viremia.

fases da poliomielite em esquema ilustrado

Com isso, o Poliovírus pode atravessar a Barreira Hematoencefálica (BHE) e invadir o Sistema Nervoso Central, o que pode gerar uma meningite auto-limitada (chamada de Meningite Asséptica Não-Paralítica) ou evoluir para uma das formas paralíticas da poliomielite.

A apresentação das Poliomielites Paralíticas depende de que sítio(s) são colonizados pelos vírions. Elas podem ser:

Poliomielite espinhal

É a forma mais comum de paralisia gerada pela Polio. Ocorre com a invasão/dano dos neurônios motores dos cornos anteriores da medula espinhal, responsáveis pelo movimento de muitos músculos. Na maioria dos casos, a paralisia flácida ocorre de maneira unilateral.

Poliomielite bulbar

Ocorre com a invasão/dano de neurônios presentes no bulbo raquidiano, região do tronco encefálico que abriga centros de funções vitais, como a respiração e a pressão arterial. Indivíduos com esta forma de pólio podem ter paralisia facial e problemas com a respiração e com a deglutição, o que pode causar a morte.

Poliomielite bulboespinhal

Em alguns casos, ambos os neurônios citados acima podem ser colonizados. Nestes casos, pacientes podem apresentar uma combinação das complicações das outras formas de poliomielite paralítica.

Síndrome Pós-Poliomielite

Uma forma tardia da poliomielite também existe. A chamada Síndrome pós-pólio ocorre em indivíduos que entraram em contato com o poliovirus muitos anos antes de apresentarem novos sintomas. 

Esta síndrome não é causada pela reativação do vírus mas pela destruição progressiva de neurônios motores previamente afetados por ele.

Vacinação e nova alta de casos

A poliomielite pode ser prevenida por meio de duas vacinas distintas: 

  • Vacina inativada: Também chamada de Vacina Salk em homenagem a seu inventor, é uma vacina inativada, aplicada por injeção; 
  • Vacina Atenuada: Também chamada de Vacina Sabin, é uma vacina atenuada, administrada de forma oral.

A implementação destas vacinas nos calendários de vacinação de diversos países fez com que a incidência da poliomielite fosse reduzida de 300.000 casos em 1980 (época em que muitos países já haviam eliminado a doença) para menos de 100 em 2019, uma diminuição de 99%.

Atualmente, apenas dois países ainda enfrentam a poliomielite enquanto endemia: o Paquistão e o Afeganistão. Apesar disso, mais de 30 países tiveram surtos de poliomielite em 2022.

O Brasil possui ambas as vacinas em seu Programa Nacional de Imunização e a vacina oral é culturalmente reconhecida pelo mascote Zé-Gotinha. Embora o país não tenha registrado nenhum caso de Poliomielite desde 1989, a cobertura vacinal contra a Pólio no Brasil tem preocupado médicos e pesquisadores.

Desde 2015 o Brasil não alcança 95% de cobertura vacinal, ou seja, a vacinação de 95% dos elegíveis. Este é um número importante, utilizado como linha de corte para considerar a população segura contra a doença.

Em algumas regiões do país a cobertura vacinal é ainda menor, como no Nordeste, em que apenas cerca de 42% das pessoas elegíveis foram completamente vacinadas em 2021. Esta é uma situação séria, que aumenta o risco de reintrodução da doença no país.

É importante lembrar que, a menos que a poliomielite seja completamente erradicada no mundo, qualquer país está sujeito a ter novos casos de poliomielite. Além disso, baixas coberturas vacinais promovem pressão seletiva para o vírus, o que pode ocasionar na reintrodução/circulação de uma variante para a qual a vacina é menos eficaz.

Tratamento e prevenção

Não existe tratamento específico para a poliomielite. As intervenções realizadas em pessoas com esta doença consistem em cuidados paliativos, visando tratar sintomas e evitar o declínio acentuado da qualidade de vida.

A Fisioterapia tem grande importância na restauração da saúde dos pacientes, especialmente naqueles com sequelas que envolvem a paralisia muscular. Através de exercícios físicos propostos pelo fisioterapeuta, diminui-se o risco de implicações irreversíveis ou de longa duração.

Dois principais métodos profiláticos podem ser utilizados contra a poliomielite. O primeiro é o exercício constante de hábitos de higiene, como a lavagem das mãos e alimentos, além do consumo de água filtrada. Em locais em que não existe saneamento básico, a implementação deste deve ser considerada uma prioridade.

Além disso, a administração da vacina segundo os intervalos de tempo estipulados pelo Programa Nacional de Imunização é o principal meio de prevenção da poliomielite. Graças a ela, os milhares casos de paralisia infantil observados no mundo foram reduzidos a algumas dezenas. 

A Varsomics incentiva: vacine-se e vacine crianças próximas. A vacinação deve ser vista como um esforço coletivo pela erradicação de doenças e não como uma escolha individual, uma vez que a vacinação afeta a sociedade como um todo de maneira positiva e a não-vacinação produz o efeito contrário.

Diagnóstico

O diagnóstico da Poliomielite é tipicamente realizado a partir da coleta de Líquor, através de uma punção lombar. A partir desta amostra, é possível realizar  a cultura viral e também testes moleculares (RT-PCR) capazes de identificar o agente etiológico.

Além disso, em pacientes vacinados que não apresentam comprometimento motor, é possível coletar uma amostra de fezes ou com swab orofaríngeo para posterior análise.

Por se tratar de uma infecção viral considerada erradicada do Brasil, ela não costuma fazer parte de suspeitas clínicas em geral. Neste contexto, ferramentas que permitem a identificação de patógenos de maneira não direcionada, como o exame de viroma, podem ser extremamente úteis no caso de uma reintrodução do vírus no país, permitindo sua rápida detecção mesmo quando ela não faz parte da hipótese de diagnóstico.

Conclusão

A Poliomielite é causada pelo poliovírus, um subtipo de Enterovírus C, e que possui três sorotipos. A patogênese da doença inicia-se com a colonização dos intestinos e da orofaringe, o que vai de encontro com o fato de que a doença é transmitida principalmente pela rota fecal-oral.

Após acessar a corrente sanguínea (viremia), os poliovírus podem chegar ao Sistema Nervoso Central ao cruzar a Barreira Hematoencefálica. Ali, a colonização dos vírions pode gerar uma meningite auto-limitada ou evoluir para formas mais severas da doença (poliomielite paralítica).

A vacinação é o principal método profilático contra a Poliomielite. No Brasil, ambas as vacinas (inativada e atenuada) estão disponíveis através do Sistema Único de Saúde, que vem observando quedas drásticas na cobertura vacinal desde 2016.

Referências

Loeffelholz, M. et al. Clinical Virology Manual. American Society for Microbiology Press, 2016.

Wolbert, J.; Higginbotham, K. Poliomyelitis. StatPearls, 2022.

Majer A, McGreevy A, Booth TF. Molecular Pathogenicity of Enteroviruses Causing Neurological Disease. Front Microbiol. 2020 

Blondel B, Colbère-Garapin F, Couderc T, Wirotius A, Guivel-Benhassine F. Poliovirus, pathogenesis of poliomyelitis, and apoptosis. Curr Top Microbiol Immunol. 2005

Centers for Disease Control and Prevention. Manual for the Surveillance of Vaccine-Preventable Diseases: Poliomyelitis, 2020. Disponível em: <https://www.cdc.gov/vaccines/pubs/surv-manual/chapters.html>

Portal Fiocruz. Pesquisadores alertam para risco de retorno da poliomielite no Brasil, 2022. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisadores-da-fiocruz-alertam-para-risco-de-retorno-da-poliomielite-no-brasil>

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