Microbioma Humano: Aplicações Clínicas

Com o avanço das tecnologias, percebeu-se que o microbioma possui implicações de longo alcance na saúde humana. Entenda!

O microbioma humano é a coleção de genomas microbianos, que contribui para o retrato genético mais amplo, ou metagenoma, de um ser humano. O microbioma é essencial para o desenvolvimento, imunidade e nutrição humana.

Com esse texto vamos mostrar que o microbioma humano representa um campo fascinante e cheio de possibilidades na área da saúde.

O que é o microbioma humano?

A microbiota humana consiste em 10-100 trilhões de células microbianas simbióticas abrigadas por cada pessoa, principalmente bactérias no intestino; o microbioma humano consiste nos genes que essas células abrigam. 

O microbioma é uma representação funcional da microbiota, fornecendo informações sobre as atividades e potenciais metabólicos dos microrganismos presentes.

Especificar a definição do microbioma humano tem sido complicado pela confusão sobre a terminologia: por exemplo, “microbiota” (os táxons microbianos associados aos humanos) e “microbioma” (o catálogo desses micróbios e seus genes) são frequentemente usados ​​de forma intercambiável.

Qual a diferença entre Microbioma e Microbiota?

O termo “microbiota” refere-se ao conjunto de microrganismos (como bactérias, fungos, vírus e arqueias) que vivem em um determinado ambiente, como o intestino, pele, boca ou vagina. Esses microrganismos formam comunidades complexas e desempenham papéis importantes na saúde e no funcionamento do organismo hospedeiro. 

Por outro lado, o termo “microbioma” refere-se ao conjunto completo de genes presentes na microbiota. O microbioma engloba o material genético dos microrganismos que compõem a microbiota. Esses genes podem influenciar a função dos organismos hospedeiros e têm um papel significativo em vários processos fisiológicos.

Composição e diversidade do microbioma humano

A composição e diversidade de microrganismos podem variar de pessoa para pessoa, sendo influenciadas por fatores como a idade, dieta, estilo de vida, ambiente e histórico de saúde. No entanto, existem alguns grupos bacterianos que são comumente encontrados no microbioma humano.

  • Firmicutes: Essas bactérias são geralmente abundantes na microbiota humana e estão envolvidas na decomposição de carboidratos complexos. Alguns gêneros comuns incluem Faecalibacterium, Lactobacillus e Clostridium.
  • Bacteroidetes: Essas bactérias também estão presentes em grande quantidade na microbiota humana e estão envolvidas na quebra de polissacarídeos e fibras. Gêneros comuns 
  • Actinobacteria: Este grupo bacteriano desempenha um papel importante na degradação da celulose e na produção de enzimas digestivas. Gêneros conhecidos incluem Bifidobacterium e Collinsella.
  • Proteobacteria: Este grupo inclui várias espécies patogênicas, mas também algumas bactérias benéficas. Gêneros comuns incluem Escherichia, Klebsiella e Helicobacter.

As bactérias presentes no microbiota ajudam a digerir nossa comida, regular nosso sistema imunológico, proteger contra outras bactérias que causam doenças e produzir vitaminas, incluindo as vitaminas do complexo B (B12, tiamina e riboflavina) e a vitamina K, que é necessária para a coagulação do sangue.

Além desses grupos bacterianos, o microbioma humano também pode conter vírus (chamados de bacteriófagos), fungos (como Candida) e outros microrganismos, embora em menor quantidade.

Essa diversidade microbiana é essencial para a manutenção da saúde humana, pois desempenha papéis importantes na digestão, síntese de vitaminas, metabolismo de compostos, modulação do sistema imunológico e proteção contra patógenos prejudiciais.

A diversidade do microbioma é medida pela quantidade de espécies microbianas diferentes presentes em uma amostra. Uma microbiota saudável é caracterizado por uma alta diversidade, o que significa que há uma ampla variedade de espécies bacterianas presentes.

A perda de diversidade ou um desequilíbrio no microbioma, conhecido como disbiose, tem sido associado a várias doenças e condições, como doenças inflamatórias intestinais, obesidade, diabetes e distúrbios do humor.

Impacto do microbioma na saúde humana

O microbioma humano desempenha um papel crucial na saúde humana e tem impactos em várias áreas. Aqui estão alguns exemplos:

  • Digestão e metabolismo: O microbioma auxilia na digestão de alimentos complexos, como fibras, que não podemos digerir por conta própria. Além disso, o microbioma está envolvido no metabolismo de substâncias, como vitaminas e compostos bioativos, que são importantes para o funcionamento adequado do corpo.
  • Sistema imunológico: O microbioma desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e na regulação do sistema imunológico. Um microbioma saudável pode ajudar a prevenir doenças autoimunes, alergias e inflamações crônicas.
  • Saúde mental: Estudos recentes sugerem uma conexão entre o microbioma e a saúde mental. O microbioma intestinal produz neurotransmissores, como serotonina, dopamina e GABA, que desempenham um papel importante no humor e na saúde mental.
  • Obesidade e metabolismo: O microbioma tem sido associado ao metabolismo e ao peso corporal. Pesquisas mostram que a composição do microbioma pode influenciar a eficiência da extração de energia dos alimentos e o armazenamento de gordura. Além disso, certas bactérias intestinais estão associadas à obesidade e à resistência à insulina.
  • Doenças intestinais e inflamatórias: Alterações no microbioma estão associadas a doenças intestinais, como doença inflamatória intestinal (como a doença de Crohn e a colite ulcerativa) e síndrome do intestino irritável. O desequilíbrio do microbioma pode levar a inflamações crônicas e prejudicar a função intestinal.
  • Resposta a medicamentos: O microbioma pode influenciar a forma como o corpo metaboliza e responde a certos medicamentos. Alguns medicamentos são ativados ou inativados pelas bactérias intestinais, o que pode afetar sua eficácia e efeitos colaterais.

Esses são apenas alguns exemplos do impacto do microbioma na saúde humana. A pesquisa nessa área ainda está em andamento, e há muito a ser descoberto sobre como o microbioma influencia nossa saúde e o desenvolvimento de novas terapias e intervenções baseadas no microbioma.

Aplicações clínicas do microbioma humano

As aplicações clínicas do microbioma humano são diversas e estão sendo exploradas em várias áreas da medicina. Em primeiro lugar, o microbioma tem sido estudado como um indicador de saúde e doença, permitindo a identificação de perfis microbianos associados a condições específicas.

Isso pode ser usado para fins de diagnóstico, prognóstico e monitoramento de doenças, como doenças inflamatórias intestinais, obesidade, diabetes, distúrbios do humor e até mesmo certos tipos de câncer.

Além disso, o microbioma humano tem sido alvo de intervenções terapêuticas. O uso de probióticos, que são microrganismos vivos benéficos para a saúde, tem sido explorado para restaurar e promover um microbioma saudável.

Da mesma forma, a terapia com microbiota fecal, que envolve a transferência de fezes de um doador saudável para o trato gastrointestinal de um paciente, tem mostrado resultados promissores no tratamento de infecções recorrentes por Clostridium difficile e colite ulcerativa.

Outra aplicação clínica em potencial é a modificação da microbiota por meio de intervenções dietéticas e estilo de vida. A compreensão de como a dieta pode influenciar o microbioma humano tem levado a abordagens personalizadas, como a prescrição de dietas específicas para modificar a composição microbiana e melhorar a saúde.

Essas intervenções podem incluir a adoção de uma dieta rica em fibras, a eliminação de alimentos inflamatórios e a suplementação com prebióticos, que alimentam as bactérias benéficas.

As aplicações clínicas do microbioma humano incluem sua utilização como biomarcador para diagnóstico e monitoramento de doenças, o uso de terapias baseadas em probióticos e microbiota fecal, e a modificação por meio de intervenções dietéticas e estilo de vida.

Perspectivas futuras de tratamentos baseados no microbioma

As perspectivas futuras de tratamentos baseados no microbioma são extremamente promissoras e oferecem um potencial revolucionário para a medicina.

Uma das principais perspectivas é o desenvolvimento de terapias personalizadas que levem em consideração o perfil único do microbioma de cada indivíduo. Isso pode envolver a identificação de perfis microbianos associados a diferentes condições de saúde e a seleção de probióticos específicos ou terapias de microbiota fecal adaptadas às necessidades individuais.

Além disso, a manipulação direta da microbiota por meio da introdução de microrganismos benéficos ou da modificação genética de microrganismos existentes tem o potencial de criar uma microbiota mais saudável e equilibrado. Isso poderia abrir portas para tratamentos personalizados, direcionados a condições específicas e melhor adaptados às necessidades de cada paciente.

Outra perspectiva é a utilização de prebióticos e modulação dietética para promover uma microbiora saudável. A identificação de prebióticos específicos e a inclusão deles na dieta podem alimentar as bactérias benéficas e promover um equilíbrio microbiano favorável.

Além disso, a modulação da dieta como um todo, considerando seu impacto sobre o microbioma, pode ser uma estratégia terapêutica valiosa para melhorar a saúde e tratar uma variedade de condições.

Em suma, as perspectivas futuras de tratamentos baseados no microbioma são emocionantes. O desenvolvimento de terapias personalizadas e a modulação dietética oferecem novas possibilidades para o tratamento e a prevenção de doenças.

À medida que a pesquisa continua avançando e a compreensão do microbioma humano se aprofunda, é provável que essas perspectivas se tornem realidades tangíveis, trazendo uma nova era de medicina personalizada e eficaz.

Conclusão

As aplicações clínicas do microbioma estão em constante desenvolvimento, com avanços promissores em terapia com microbiota fecal, uso de probióticos, diagnóstico de doenças, personalização do tratamento e intervenções dietéticas.

Essas abordagens estão transformando a forma como tratamos condições médicas e estão abrindo caminho para terapias mais eficazes e personalizadas.

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