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A Síndrome de Li-Fraumeni (SLF) é uma condição genética rara que predispõe indivíduos a desenvolverem vários tipos de câncer ao longo da vida. Essa síndrome foi descoberta em 1969 por Frederick Pei Li e Joseph F. Fraumeni Jr., e desde então tem sido objeto de estudo na área da medicina genômica.
Neste conteúdo abordamos as causas da síndrome, o impacto dela na saúde humana e como a medicina genômica pode auxiliar no diagnóstico e no manejo genético para a síndrome. Acompanhe.
O que é a síndrome de Li-Fraumeni?
A Síndrome de Li-Fraumeni é caracterizada por uma predisposição hereditária ao câncer devido a mutações no gene TP53, responsável pela supressão tumoral. Essa síndrome é hereditária e segue um padrão de herança autossômica dominante, o que significa que um único alelo mutado é suficiente para a manifestação da doença.
As variantes patogênicas do gene TP53 estão frequentemente associadas à Síndrome de Li-Fraumeni. Essas alterações genéticas podem ser herdadas dos pais ou ocorrerem de forma espontânea durante o desenvolvimento embrionário.
Estudos têm mostrado que as mutações no TP53 são responsáveis por cerca de 70% dos casos de Síndrome de Li-Fraumeni.
A herança autossômica dominante significa a presença de uma variante patogênica em um único alelo do gene TP53 é suficiente para que a síndrome se manifeste. Isso resulta em uma predisposição significativa ao desenvolvimento de vários tipos de câncer, como sarcoma de tecidos moles, câncer de mama, câncer colorretal, leucemia e tumores cerebrais, entre outros.

Características clínicas e epidemiologia da síndrome
A Síndrome de Li-Fraumeni está associada a um amplo espectro de tipos de câncer. Os mais comuns incluem sarcoma de tecidos moles, câncer de mama, câncer colorretal, leucemia e tumores cerebrais.
Além disso, os indivíduos com essa síndrome podem desenvolver outros tipos de câncer, aumentando ainda mais o risco ao longo da vida.
Embora a Síndrome de Li-Fraumeni possa se manifestar em qualquer idade, há uma faixa etária em que a incidência é mais alta. Geralmente, os primeiros sinais da síndrome aparecem na infância, com a ocorrência de tumores ósseos e sarcomas de tecidos moles. No entanto, a incidência de outros tipos de câncer associados à síndrome pode aumentar durante a adolescência e a vida adulta.
A Síndrome de Li-Fraumeni é considerada uma condição rara. Estima-se que a prevalência seja de aproximadamente 1 em cada 5.000 a 20.000 pessoas.
No entanto, é importante ressaltar que a síndrome pode ser subdiagnosticada devido à falta de conhecimento sobre ela e à variabilidade dos sintomas entre os indivíduos afetados.
Diagnóstico da Síndrome de Li-Fraumeni
O diagnóstico da Síndrome de Li-Fraumeni baseia-se em critérios clínicos e familiares. Os critérios clínicos incluem a presença de um tumor pediátrico, um ou mais parentes de primeiro ou segundo grau com câncer antes dos 45 anos de idade, e um ou mais parentes de primeiro ou segundo grau com câncer de tecidos moles ou sarcoma em qualquer idade.
Além disso, os critérios familiares levam em consideração a história de câncer em parentes próximos.
Os testes genéticos são fundamentais para confirmar o diagnóstico da Síndrome de Li-Fraumeni. Eles envolvem a análise do gene TP53 em amostras de DNA do paciente.
A identificação de mutações no TP53 é um indicativo claro da presença da síndrome. Esses testes genéticos também podem ser realizados em familiares assintomáticos para identificar indivíduos em risco.
O aconselhamento genético desempenha um papel crucial no manejo da Síndrome de Li-Fraumeni. É importante que os indivíduos afetados e seus familiares entendam os riscos associados à síndrome, bem como as opções de prevenção e detecção precoce do câncer.
Além disso, o histórico familiar desempenha um papel fundamental no aconselhamento genético, pois fornece informações valiosas sobre o risco de outros membros da família desenvolverem câncer.
Manejo genético e prevenção de câncer na Síndrome de Li-Fraumeni
Indivíduos com Síndrome de Li-Fraumeni ou em risco de desenvolvê-la devem ser submetidos a um programa de rastreamento e monitoramento regular.
Isso pode incluir exames clínicos, exames de imagem, testes de laboratório e outros procedimentos específicos, dependendo dos tipos de câncer associados à síndrome. O objetivo é detectar precocemente qualquer sinal de câncer e agir prontamente.
Além do monitoramento regular, existem estratégias de prevenção e detecção precoce do câncer que podem ser adotadas por indivíduos com Síndrome de Li-Fraumeni.
Isso pode incluir a redução de fatores de risco, como o tabagismo e a exposição a agentes carcinogênicos, além de medidas de estilo de vida saudável. Além disso, o uso de técnicas de triagem e rastreamento apropriadas para cada tipo de câncer pode ajudar na detecção precoce e no tratamento eficaz.
O tratamento do câncer em indivíduos com Síndrome de Li-Fraumeni segue as mesmas diretrizes gerais para o tratamento do câncer em pessoas sem a síndrome.
No entanto, devido à predisposição genética, pode haver a necessidade de abordagens terapêuticas mais específicas e personalizadas. Isso pode incluir o uso de terapias direcionadas ou imunoterapia, que visam os mecanismos moleculares específicos das células cancerígenas.
Impacto da Síndrome de Li-Fraumeni na medicina genômica
A Síndrome de Li-Fraumeni tem impulsionado avanços significativos na área da medicina genômica. O sequenciamento genético de alta precisão tem se tornado mais acessível, permitindo a identificação de mutações TP53 com maior precisão e rapidez.
Isso auxilia no diagnóstico precoce e no aconselhamento genético mais eficaz para indivíduos afetados.
A compreensão da Síndrome de Li-Fraumeni e das mutações TP53 tem levado ao desenvolvimento de terapias direcionadas e personalizadas.
Essas terapias visam alvos específicos no mecanismo de crescimento e sobrevivência das células cancerígenas, aumentando a eficácia do tratamento e reduzindo os efeitos colaterais. Isso representa um avanço significativo na área do tratamento do câncer.
O manejo da Síndrome de Li-Fraumeni apresenta considerações éticas e emocionais importantes. Os testes genéticos podem fornecer informações delicadas sobre o risco de desenvolver câncer, o que pode causar ansiedade e estresse emocional nos indivíduos afetados e em suas famílias.
Além disso, questões éticas relacionadas à privacidade e ao acesso a informações genéticas devem ser consideradas no manejo da síndrome.


Conclusão
A Síndrome de Li-Fraumeni é uma condição genética rara que predispõe indivíduos a desenvolverem vários tipos de câncer ao longo da vida. O diagnóstico precoce e o manejo genético são fundamentais para a prevenção e o tratamento eficaz do câncer associado à síndrome.
Avanços na medicina genômica têm proporcionado maior compreensão da síndrome, identificação de mutações TP53 e desenvolvimento de terapias direcionadas.
Espera-se que futuros avanços na área da medicina genômica continuem a trazer esperança para o tratamento e a prevenção do câncer relacionados a essa síndrome.
Referências:
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