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Na última década um profissional específico tem se tornado peça chave em diferentes grupos de pesquisa e empresas da área da saúde, o bioinformata. De modo geral, bioinformata é o profissional que une conhecimentos de informática e biologia, ou seja, que trabalha com Bioinformática.
Por se tratar de uma área inter e multidisciplinar, pode ser difícil usar uma definição de bioinformata que englobe todos os profissionais, visto que alguns campos exigem bastante conhecimento em outras áreas, como Química e Biofísica.
Uma analogia muito boa foi cunhada pelo blog Bioinformaticamente:
“Bioinformata é uma pessoa que percorre um caminho difícil, cheio de pedras, e coleta as mais brilhantes durante sua jornada. Obviamente, ele(a) optou por recolher apenas as pedras que mais gosta, sem levar todas, não faria sentido, encheria imediatamente a sacola sem saber o que fazer com as que recolheu sem julgamento.” – Tradução não literal.
Essa analogia faz muito sentido quando entendemos o bioinformata como um profissional que foi apresentado a diversas áreas de estudo, ferramentas e tecnologias durante sua formação, e escolheu algumas para compor seu arcabouço de conhecimento.
Você tem interesse em se tornar um(a) bioinformata? Separamos neste texto 6 perguntas chave para quem deseja trabalhar nessa área!
1. O que faz um bioinformata?
Basicamente um bioinformata faz uso, e/ou desenvolve, ferramentas computacionais (scripts, toolbox, pipelines, workflows) para processar e analisar dados biológicos.
Com o avanço das tecnologias genômicas, após a década de 80, foi necessário o desenvolvimento e, posteriormente a aplicação, de diversas ferramentas para “dar sentido” aos dados gerados pelos sequenciadores, como por exemplo, as ferramentas utilizadas na montagem de genomas.
Nos últimos anos, surgiram outras “ômicas”, muitas relacionadas à medicina de precisão, que também demandaram o desenvolvimento, e a aplicação, de diferentes ferramentas utilizadas na área da genômica.
Além do surgimento de novas áreas, novas ferramentas surgem quase que diariamente. Dessa forma, o bioinformata precisa estar em constante aprendizado. Isso explica o trecho “Bioinformata é uma pessoa que percorre um caminho difícil, cheio de pedras…” no início do texto.
O aprendizado pode também não se limitar ao uso de novas ferramentas, mas também de diferentes linguagens de programação, dependendo do perfil de bioinformata que você deseja se tornar.
Welch e colaboradores publicaram um artigo em 2014 descrevendo 3 perfis de bioinformatas:

Cada perfil terá seu conjunto de ferramentas e tecnologias, e dependendo do perfil, uma formação específica pode facilitar o seu plano de carreira.
2. Qual a formação técnica necessária?
Apesar de existirem cursos de graduação como Informática Biomédica, e programas de pós-graduação em Bioinformática e/ou Biologia Computacional – que dão uma base excelente para atuação na área – atualmente não existe uma regulamentação que limite a atuação como bioinformata à cursos específicos.
Geralmente profissionais que trabalham com bioinformática tem uma formação relacionada com a área de Ciências Biológicas, como por exemplo:
- Biomedicina
- Biologia
- Biotecnologia
- Informática Biomédica
- Farmácia.
No entanto, o profissional também pode ter formação na área de Ciências Computacionais, como Sistemas da Informação, etc.
Dependendo do perfil do bioinformata, algumas formações podem facilitar seu plano de carreira. Por exemplo, um profissional da área computacional pode ter mais facilidade em atuar como bioinformata engenheiro, enquanto um profissional da área de biológicas pode ter facilidade em atuar como cientista ou usuário em bioinformática. No entanto, nenhum desses fatores é limitante, tenha isso em mente.
Além dos cursos de graduação, normalmente bioinformatas realizam alguma pós-graduação – como especialização, mestrado ou doutorado – onde executam projetos de bioinformática que lhes fornece a bagagem necessária para atuar na área.
3. Quais as principais ferramentas?
Como a bioinformática envolve diversas ômicas, existe atualmente uma infinidade de ferramentas a depender da área, e da tecnologia de geração dos dados, algumas das mais populares, por tipo de análise na área genômica, são:
- Processamento e tratamento de dados de sequenciamento illumina: bcl2fastq; Trimmomatic; fastp; MultiQC.
- Mapeadores por referência: Bowtie2, BWA;
- Montadores genômicos denovo: Spades, Velvet, Abyss;
- Alinhamento múltiplo de sequências: Mafft; Muscle, Clustal;
- Alinhamento par-a-par em larga escala: BLAST, DIAMOND, Kraken2;
- Análise filogenética: IQTREE-2, PhyML, RaxML, BEAST, MrBayes;
- Ferramentas comumente usadas em genômica: samtools, bcftools, vcftools, bedtools, picard, gatk, freebayes, snpEff, DRAGEN.
Além de ferramentas e caixas de ferramentas “toolbox”, linguagens de programação como Shell Script, Python, R e, mais recentemente, Julia e Rust são comumente utilizadas para criação de scripts e ferramentas em bioinformática.
Outras tecnologias como linguagens para desenvolvimento de workflows como WDL, Snakemake e Nextflow, bem como plataformas para versionamento, como Github, gerenciamento de containers, como Docker, e computação na nuvem, como AWS, vem também se popularizando na bioinformática.
4. Quais cursos de bioinformática fazer?
Recentemente disponibilizamos um artigo com indicações de cursos de bioinformática, que engloba diferentes plataformas educacionais voltadas para a área de bioinformática.
Como podemos perceber ao longo deste artigo, o bioinformata, dependendo do seu perfil e da sua área de estudo, precisa aprender diferentes tecnologias para executar seu trabalho. Neste banco de cursos existem mais de 90 materiais, entre cursos, livros e tutoriais voltados para diferentes áreas da bioinformática.
5. Onde um bioinformata pode trabalhar?
Apesar da formação do bioinformata estar, ainda, muito atrelada ao meio acadêmico, além do bioinformata trabalhar como um pesquisador, professor ou técnico concursado, existem algumas opções fora da academia:
- Freelancer: Ofertando serviços de análise e processamento de dados para diferentes grupos, sob-demanda;
- Regime CLT: Trabalhando para empresas que trabalham com análise e processamento de dados biológicos, em regimes CLT;
- Regime PJ: Trabalhando com oferta de serviços por meio de contratos específicos para empresas no Brasil ou no Exterior.
Outro ponto interessante relacionado ao trabalho como bioinformata, é a possibilidade de executar suas atividades em diferentes modelos de rotina: presencial, híbrido ou remoto, sendo o último uma ótima alternativa para quem busca um estilo de vida com rotinas de trabalho em horários mais flexíveis.
6. Qual o salário de um bioinformata?
No momento da escrita deste artigo – 14 de Setembro de 2022 – a média salarial de um bioinformata no Brasil, de acordo com a plataforma Glassdoor, é de R$ 5.560,00, sendo um salário de R$ 3.000,00 e R$ 8.000,00 considerados como baixo e alto, respectivamente.
O salário pode variar também com o nível do cargo, assim como na área de TI, tem se tornado comum na bioinformática cargos terem Níveis de Senioridade, como júnior, pleno e sênior, onde cada nível requer um conjunto de soft e hard skills, o que reflete na diferença salarial.
E por fim, além dos níveis de senioridade, algumas empresas adotam também hierarquias de níveis dentro de cada categoria, isto tudo, geralmente, está descrito no plano de carreira da empresa.
Conclusão
Definir o profissional bioinformata tem sido uma tarefa tão difícil quanto definir a área de bioinformática em si. Neste artigo, apresentamos os principais pontos relacionados a essa carreira, buscando informar quem deseja se tornar um profissional nesta área, ou apenas tem curiosidade com o que trabalha um bioinformata.
Caso você tenha interesse em se tornar um bioinformata, não deixe de conferir os conteúdos no nosso canal no Youtube e os demais artigos aqui do blog. Caso seu interesse aumente, o Hospital Israelita Albert Einstein oferta uma especialização na área, e a VarsAcademy conta com diferentes cursos de aperfeiçoamento.
Referências
Welch, L. et al. Bioinformatics Curriculum Guidelines: Toward a Definition of Core Competencies. PLOS Computational Biology. 2014.