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O diagnóstico precoce das doenças neuroinfecciosas é de extrema importância para garantir um tratamento adequado e minimizar as complicações. Além disso, é crucial para evitar a propagação da infecção para outras pessoas e implementar medidas de controle e prevenção adequadas.
Conheça mais sobre essas doenças infecciosas, seus agentes causais, métodos de prevenção e por que tratá-las efetivamente é importante para toda sociedade! Neste texto trazemos todas essas informações para você relembrar ou aprender sobre o tema.
O que são doenças neuroinfecciosas?
Doenças neuroinfecciosas ou neuroinfecções são enfermidades que afetam o sistema nervoso e são causadas por agentes infecciosos, como vírus, bactérias, fungos e parasitas.
O sistema nervoso, composto pelo cérebro, medula espinhal e nervos, desempenha um papel vital no funcionamento do corpo humano. Portanto, qualquer invasão ou inflamação nessa região pode levar a distúrbios neurológicos graves, incluindo meningite, encefalite, mielite e outras condições debilitantes.
Essas infecções representam um desafio significativo para a saúde pública em todo o mundo, devido à sua complexidade diagnóstica e terapêutica, bem como às consequências devastadoras que podem acarretar aos pacientes.
As doenças neuroinfecciosas podem afetar pessoas de todas as idades, em qualquer parte do mundo, e sua severidade varia de acordo com fatores ambientais, condições socioeconômicas, estado imunológico do indivíduo e natureza do agente infeccioso.
Diante desse panorama, é fundamental aprofundar nossa compreensão sobre essas doenças infecciosas, bem como buscar avanços no diagnóstico precoce, tratamento eficaz e prevenção.
O que causam as doenças neuroinfecciosas?
As doenças neuroinfecciosas são causadas por agentes infecciosos, como vírus, bactérias, fungos e parasitas. Esses patógenos podem invadir o sistema nervoso de diferentes maneiras, seja através da disseminação hematogênica, invasão direta, migração neural ou transporte axonal.
Os principais patógenos envolvidos nas doenças neuroinfecciosas variam de acordo com o tipo de infecção. Entre os vírus, destacam-se o vírus herpes simplex (HSV), o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o vírus da encefalite de Saint Louis (SLEV) e o vírus do Nilo Ocidental (VNO).
Já as bactérias mais comuns incluem a bactéria Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Mycobacterium tuberculosis.
No caso das infecções fúngicas, os agentes mais frequentes são Cryptococcus neoformans e Aspergillus spp.
Parasitas como Toxoplasma gondii e Trypanosoma cruzi também podem causar doenças neuroinfecciosas.

Como ocorre a transmissão das doenças neuroinfecciosas?
Os modos de transmissão desses patógenos variam dependendo do agente infeccioso. Por exemplo, algumas infecções virais, como o HSV, podem ser transmitidas por contato direto com lesões ativas ou por via sexual.
Outros vírus neuro trópicos, como o HIV, podem ser transmitidos através do compartilhamento de agulhas contaminadas, relações sexuais desprotegidas ou da mãe para o feto durante a gravidez ou parto.
As bactérias que causam meningite, por sua vez, podem ser transmitidas por gotículas respiratórias em ambientes fechados ou superlotados. Alguns parasitas, como o Trypanosoma cruzi, são transmitidos por vetores, como insetos hematófagos.
Existem riscos específicos associados às doenças neuroinfecciosas, principalmente relacionados às possíveis complicações neurológicas e ao comprometimento do funcionamento cerebral.
Dependendo do agente infeccioso e da gravidade da infecção, as consequências podem variar desde sintomas leves, como dor de cabeça e febre, até problemas neurológicos graves, como convulsões, paralisia, danos cognitivos e até mesmo a morte.
Além disso, algumas doenças neuroinfecciosas podem levar a sequelas permanentes, como déficits motores, sensoriais ou cognitivos.


Principais doenças neuroinfecciosas
O conhecimento aprofundado das principais doenças neuroinfecciosas é fundamental para os profissionais de saúde, permitindo-lhes estar alertas para os sinais e sintomas característicos dessas condições.
A identificação precoce dos fatores de risco, a realização de exames adequados e a interpretação correta dos resultados são essenciais para um diagnóstico efetivo.
Listamos as principais doenças neuroinfecciosas e seus principais sintomas a seguir:
Encefalites virais: As encefalites virais são inflamações do cérebro causadas por diferentes tipos de vírus, como o herpes simplex, vírus do Nilo Ocidental, vírus da encefalite de Saint Louis, entre outros. Essas infecções podem levar a sintomas como febre, dor de cabeça, confusão, convulsões e comprometimento neurológico grave.
Meningites bacterianas: As meningites bacterianas são infecções das meninges, as membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal, causadas por bactérias como Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae. Essa condição provoca sintomas como rigidez de nuca, febre, dor de cabeça intensa e sensibilidade à luz.
Meningoencefalites causadas por protozoários: Algumas doenças neuroinfecciosas são causadas por protozoários, como Toxoplasma gondii e Trypanosoma cruzi. Esses patógenos podem infectar o cérebro e as meninges, causando sintomas de meningite e encefalite. As manifestações clínicas variam de acordo com o protozoário envolvido.
Infecções fúngicas do sistema nervoso central: As infecções fúngicas do sistema nervoso central podem ser causadas por diferentes fungos, como Cryptococcus neoformans e Aspergillus spp. Essas infecções podem ocorrer em pessoas com sistema imunológico comprometido, como pacientes com HIV/AIDS ou em uso de medicamentos imunossupressores. Os sintomas podem incluir dor de cabeça, febre, confusão e comprometimento neurológico.
Outras doenças neuroinfecciosas relevantes: Além das mencionadas acima, existem outras doenças neuroinfecciosas relevantes, como a neurocisticercose (infecção pelo parasita Taenia solium), poliomielite (causada pelo vírus da poliomielite), encefalite japonesa (causada pelo vírus da encefalite japonesa transmitido por mosquitos) e a doença de Creutzfeldt-Jakob (uma doença neurodegenerativa causada por príons). Cada uma delas apresenta características clínicas, modos de transmissão e tratamentos específicos.
A importância do diagnóstico precoce
Muitas dessas doenças neuroinfecciosas podem progredir rapidamente e causar danos permanentes ao sistema nervoso se não forem identificadas e tratadas precocemente.
O diagnóstico precoce e preciso das doenças neuroinfecciosas desempenha um papel crucial na melhoria dos resultados clínicos e na redução da morbidade e mortalidade associadas a essas patologias.
Muitas doenças neuroinfecciosas apresentam sintomas inespecíficos que podem ser confundidos com outras condições, dificultando o diagnóstico correto. No entanto, uma abordagem ágil e assertiva para identificar essas doenças é essencial para iniciar o tratamento adequado e minimizar possíveis sequelas neurológicas.
Esse entendimento é fundamental tanto para os profissionais de saúde quanto para o público em geral, a fim de promover uma abordagem abrangente e eficaz no enfrentamento dessas doenças e na proteção da saúde do sistema nervoso.
É de extrema importância para garantir um tratamento adequado e minimizar as complicações. evitar a propagação da infecção para outras pessoas e implementar medidas de controle e prevenção adequadas.
Os principais métodos utilizados no diagnóstico das doenças neuroinfecciosas são:
1. Exames laboratoriais: desempenham um papel fundamental no diagnóstico das doenças neuroinfecciosas. A análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), obtido por punção lombar, é um dos principais métodos utilizados.
Nesse exame, são avaliados parâmetros como celularidade, proteínas, glicose e presença de agentes infecciosos. A sorologia (detecção de anticorpos) e sequenciamento genético de amostras clínicas também são empregadas para identificar o agente causador da infecção.
2. Técnicas de imagem: a ressonância magnética (RM) e a tomografia computadorizada (TC), são importantes para avaliar as alterações estruturais do sistema nervoso causadas pelas doenças neuroinfecciosas.
Esses exames podem identificar lesões, inflamações, abscessos, edema cerebral e outras anormalidades que auxiliam no diagnóstico diferencial e na avaliação da gravidade da infecção.
A ressonância magnética, em particular, oferece imagens mais detalhadas e precisas, permitindo uma melhor visualização das estruturas do sistema nervoso central.
3. Biomarcadores e testes específicos: Esses biomarcadores são substâncias ou características biológicas que podem ser detectadas em amostras clínicas, como sangue ou líquido cefalorraquidiano, e indicar a presença ou gravidade da infecção. Além disso, testes específicos, como testes de reação em cadeia da polimerase (PCR), podem identificar o material genético dos patógenos, permitindo uma detecção mais precisa e rápida.
4. Abordagem integrada no diagnóstico das doenças neuroinfecciosas: O diagnóstico das doenças neuroinfecciosas requer uma abordagem integrada, considerando tanto os aspectos clínicos quanto os resultados dos exames laboratoriais e de imagem.
É essencial a colaboração entre médicos, infectologistas, neurologistas, radiologistas e outros profissionais de saúde para avaliar os dados clínicos, interpretar os resultados dos exames e chegar a um diagnóstico preciso.
É importante considerar o contexto epidemiológico e os fatores de risco individuais do paciente para direcionar a investigação diagnóstica de forma adequada.
O papel do viroma nas doenças neuroinfecciosas
O viroma, que se refere ao conjunto de vírus presentes em determinado ambiente ou organismo, desempenha um papel importante no diagnóstico e controle das doenças neuroinfecciosas.
Primeiro, certos vírus têm tropismo pelo sistema nervoso e podem causar infecções diretas no cérebro e na medula espinhal. Esses vírus neurotrópicos não necessariamente são de fácil identificação, ainda mais em tecidos nos quais é difícil de se colher uma amostra.
Além disso, certos vírus podem desencadear respostas imunológicas complexas no sistema nervoso, levando a doenças autoimunes ou inflamatórias. Por exemplo, a infecção viral pode desencadear uma resposta imune exagerada, levando à inflamação do cérebro e à ocorrência de doenças como encefalite autoimune.
Dessa forma, o exame de viroma é uma técnica poderosa para casos como esses, uma vez que emprega o sequenciamento genético para uma abordagem metagenômica das doenças neuroinfecciosas.
No Einstein, é possível realizar o exame de Viroma a partir de uma amostra de Líquido Cefalorraquidiano. Neste exame, são sequenciados todos os fragmentos genéticos relacionados a vírus ali presentes, permitindo sua identificação.
Adicionalmente, este exame é processado utilizando-se o Varsmetagen, um pipeline de bioinformática na qual médicos e profissionais especialistas têm a sua disposição um kit completo de ferramentas para realizar a análise do material genético viral presente no LCR.


Como se prevenir das contaminações?
O conhecimento sobre essas doenças, seus patógenos e modos de transmissão é fundamental para promover a conscientização, prevenção e tratamento adequado, visando minimizar os riscos e impactos dessas condições no sistema nervoso.
A prevenção e o controle das doenças neuroinfecciosas envolvem medidas como vacinação, higiene adequada, uso de preservativos em relações sexuais, controle de vetores e diagnóstico precoce para o tratamento adequado.
Além disso, o conhecimento sobre as diferentes manifestações clínicas e as estratégias de tratamento disponíveis ajuda a otimizar o cuidado ao paciente, permitindo intervenções terapêuticas mais direcionadas e eficazes.
À medida que o conhecimento e a compreensão das doenças neuroinfecciosas avançam, é essencial promover a conscientização, a educação e a implementação de medidas de prevenção eficazes.
A colaboração entre profissionais de saúde, pesquisadores e autoridades de saúde pública é fundamental para enfrentar essas doenças de maneira abrangente e promover estratégias eficazes de diagnóstico, tratamento e prevenção.
Existem vacinas para essas doenças?
Existem vacinas disponíveis para algumas doenças neuroinfecciosas. Algumas das principais doenças neuroinfecciosas para as quais foram desenvolvidas vacinas são a poliomielite, a encefalite japonesa e a meningite meningocócica.
No entanto, é de grande importância o desenvolvimento de vacinas para doenças que afetam principalmente populações de países de baixa renda e recebem pouca atenção da indústria farmacêutica.
A Doença de Chagas, por exemplo, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, é uma doença negligenciada que afeta milhões de pessoas nas Américas. Há esforços contínuos de pesquisa e desenvolvimento de vacinas.
Vários candidatos a vacinas estão em diferentes estágios de desenvolvimento, desde a fase pré-clínica até a fase de testes clínicos em humanos. Alguns desses candidatos têm como alvo o próprio parasita, enquanto outros se concentram na resposta imunológica do hospedeiro.
Além disso, pesquisadores estão explorando abordagens inovadoras, como a utilização de vetores virais e a combinação de múltiplos antígenos, a fim de aumentar a eficácia das vacinas.
Conclusão
As doenças neuroinfecciosas representam um desafio significativo para a saúde pública, devido à sua gravidade e potencial de causar danos ao sistema nervoso. O diagnóstico precoce e preciso dessas condições é essencial para um manejo clínico adequado, visando minimizar as complicações e melhorar os resultados para os pacientes.
O uso de uma abordagem integrada, que envolve exames laboratoriais, técnicas de imagem e testes específicos, é fundamental para identificar o agente infeccioso e direcionar o tratamento de forma eficaz.
Perspectivas futuras promissoras para o diagnóstico dessas infecções incluem o desenvolvimento de novos biomarcadores mais sensíveis e específicos, aprimoramento das técnicas de imagem para uma melhor visualização das lesões cerebrais e avanços na genômica e proteômica para a identificação rápida e precisa dos patógenos.
Além disso, os esforços de pesquisa estão sendo direcionados para o desenvolvimento de novos tratamentos, como terapias antivirais mais eficazes, novos agentes antifúngicos e estratégias imunoterapêuticas. O objetivo é não apenas tratar as infecções, mas também prevenir danos neurológicos irreversíveis e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Referências
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