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Segundo a OMS, a infertilidade é considerada um problema de saúde que afeta milhões de pessoas em todo mundo. Quando o assunto é infertilidade feminina, uma variedade de causas podem estar relacionada a incapacidade de engravidar. A compreensão das causas da infertilidade feminina e o desenvolvimento de tratamentos eficazes para auxiliar mulheres que enfrentam esse problema é um dos principais desafios da medicina reprodutiva.
Quer saber mais sobre a infertilidade entre mulheres? Continue lendo para entender esse e outros tópicos, como causas, fatores de risco e tratamentos!
O que é a infertilidade feminina?
A infertilidade feminina é uma condição complexa enfrentada por mulheres que não conseguem engravidar após um ano de tentativas regulares. Esta condição é responsável por cerca de um terço de todos os casos de infertilidade entre casais.
Em geral, a taxa de fecundidade entre mulheres decai com o avanço da idade. Entre mulheres com 18 a 34 anos, a taxa de infertilidade é estimada em 7%-9%, enquanto entre mulheres com mais de 40 anos este número pode subir para 30%.
É importante ressaltar que, embora a infertilidade não seja exclusivamente feminina, os encargos sociais, psicológicos e médicos gerados por esta condição são diferentes entre homens e mulheres. Por isso, é necessário abordar o tema de forma inclusiva e sensível, considerando as especificidades de cada gênero e as suas respectivas realidades.
Causas comuns da infertilidade feminina
A infertilidade feminina pode ser categorizada como primária ou secundária.
Infertilidade primária: Diz-se que uma mulher é primariamente infértil quando ela nunca levou uma gravidez a termo antes, se encaixa nos critérios de infertilidade e, de fato, não conseguiu engravidar após um ano de tentativas.
Infertilidade secundária: Nome dado para a ocasião da infertilidade entre mulheres que já tiveram filhos previamente. Este é o tipo mais comum de infertilidade entre mulheres, especialmente em países onde existem altos índices de intercorrências durante ou após o parto (com doenças infecciosas, por exemplo).
Cerca de 25% de todos os casos de infertilidade feminina estão relacionados a distúrbios ovulatórios que impedem que óvulos sejam liberados corretamente pelos ovários. Nesse contexto, anovulações correspondem à ausência da ovulação, enquanto na oligovulação os gametas femininos são liberados de maneira irregular.
Como veremos na sequência, outros fatores também são prevalentes no contexto geral de infertilidade feminina, como é o caso da endometriose, dos fatores cervicais e uterinos e também da infertilidade tubária.
Anovulação e distúrbios ovulatórios
A anovulação se torna uma suspeita clínica no contexto da infertilidade feminina quando os ciclos menstruais duram menos de 21 ou mais de 35 dias.
A principal causa (cerca de 85% dos casos) de anovulação entre mulheres em idade reprodutiva é a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Este é o distúrbio endócrino feminino mais comum, afetando aproximadamente 10% de todas as mulheres.
O diagnóstico da SOP é positivo quando a mulher manifesta ao menos dois dos chamados ‘Critérios de Rotterdam’, que são:
- Ausência ou infrequência da ovulação;
- Morfologia ovariana policística conforme demonstrado por ultrassonografia;
- Hiperandrogenismo (acne, hirsutismo, alopecia de padrão androgênico, etc) ou elevação dos níveis séricos de hormônios andrógenos, conforme demonstrado por exames laboratoriais.
Além disso, a Síndrome dos Ovários Policísticos também está relacionada à obesidade e a fatores culturais/sociais, de tal forma que a perda de peso e a modificação de hábitos com implicação metabólica ajudam na restauração da ovulação normal.
Uma segunda causa para anovulações é a Insuficiência Ovariana Prematura (IOP), comumente associada à Síndrome de Turner ou à Síndrome do X Frágil. Nesta condição existe a perda progressiva dos folículos antrais, indicando a diminuição da foliculogênese e das reservas ovarianas.
Por fim, algumas anovulações podem ter origem idiopática ou, ainda, serem causadas por outros fatores, como:
- Doenças tireoidianas;
- Doenças da hipófise;
- Amenorréia hipotalâmica funcional (causada, por exemplo, por distúrbios alimentares).
Infertilidade tubária
A infertilidade tubária é caracterizada pela obstrução física das tubas uterinas (trompas de falópio) ou por outras razões que impeçam o fluxo dos gametas pelas tubas. Estas alterações são encontradas em 11% a 67% dos casos de infertilidade feminina, a depender da população investigada.
A principal causa de infertilidade tubária é a Doença Inflamatória Pélvica, causada por infecções sexualmente transmissíveis, principalmente pela Chlamydia trachomatis. A infecção por clamídia pode levar à formação de cicatrizes e aderências nas tubas uterinas, impedindo o movimento do óvulo e a sua fecundação.
Endometriose
A endometriose ocorre mediante a presença do tecido endometrial fora da cavidade uterina. Esta também é uma das principais causas de infertilidade feminina, sendo responsável por cerca de 25% a 40% destes casos.
Em geral, a endometriose é mais comumente encontrada na pelvis, ainda que outros sítios possam ser afetados. Além disso, essa condição afeta até 15% de todas as mulheres em idade reprodutiva.
Os mecanismos fisiopatológicos pelos quais a endometriose leva à infertilidade dependem do estágio em que esta condição se encontra. Em estágio iniciais, por exemplo, ela pode ser associada a reações inflamatórias, enquanto em estágios avançados as adesões causadas pela endometriose podem causar obstrução física das tubas uterinas.


Fatores de risco da infertilidade e como prevenir
A fertilidade de homens e mulheres é afetada por alguns fatores de risco, que incluem hábitos e outras doenças que não aquelas anteriormente citadas.
O excesso de exercícios físicos e as restrições calóricas são uma conhecida causa de infertilidade. Enquanto em mulheres estes hábitos podem levar à diminuição da frequência ovulatória e ao baixo desenvolvimento endometrial, em homens eles podem causar a diminuição da qualidade dos espermatozóides. De maneira análoga, a obesidade também pode levar aos mesmos problemas.
Hábitos como o tabagismo e o consumo de álcool também estão associados a maiores índices de infertilidade em homens e mulheres. O conteúdo de cigarros, que inclui nitrosaminas e metais pesados, influi diretamente sobre importantes etapas da fertilidade feminina, como a foliculogênese e a angiogênese endometrial.
No caso do consumo de álcool alguns mecanismos são conhecidos por elevar estrógenos, que por sua vez são capazes de diminuir a secreção do Hormônio Luteinizante (LH) e, consequentemente, a frequência ovulatória. Além disso, o consumo de álcool está diretamente relacionado com a diminuição da contagem de espermatozoides.
Tratamento e manejo da infertilidade feminina
Um dos tratamentos mais comuns para a infertilidade feminina são as terapias medicamentosas. Existem vários tipos de medicamentos que podem ajudar a estimular a ovulação e aumentar as chances de gravidez e o citrato de clomifeno é um dos medicamentos mais prescritos para mulheres com problemas de ovulação.
Este medicamento funciona estimulando a liberação de hormônios que desencadeiam a ovulação. Outros medicamentos, como as gonadotrofinas sintéticas, também podem ser usados para estimular a ovulação.
Nos casos em que o medicamento não é eficaz, as Tecnologias de Reprodução Assistida (TRA) podem ser usadas para ajudar mulheres a engravidar, sendo que a Fertilização In Vitro (FIV) é um dos métodos de TRA mais populares no contexto da infertilidade.
Ela envolve a fertilização de um óvulo com espermatozóides fora do corpo da mulher e a subsequente implantação do embrião fertilizado no útero da mulher. Uma das vantagens dessa técnica é a possibilidade de associá-la aos Testes Genéticos Pré-implantacionais.
Outras técnicas de reprodução assistida incluem, ainda, as injeções intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), em que espermatozoides são introduzidos em gametas femininos maduros para a geração do zigoto, e também a inseminação uterina, na qual o espermatozoide é inserido diretamente no interior do útero.
Adicionalmente, as estratégias cirúrgicas podem se tornar uma opção para mulheres com problemas de infertilidade. A cirurgia laparoscópica pode ser usada para tratar a endometriose, uma condição em que o tecido que normalmente reveste o útero cresce fora dele. Em casos em que uma mulher tem trompas de falópio bloqueadas, a cirurgia pode ser usada para remover ou reparar o bloqueio.
Conclusão
É importante ressaltar que a infertilidade feminina é uma condição complexa, na qual questões envolvendo hábitos, doenças e outras condições contribuem de maneiras que nem sempre são óbvias. Por isso, quando desejamos ter um filho e não conseguimos, a melhor opção é procurar o auxílio de profissionais especializados.
Referências
Carson SA, Kallen AN. Diagnosis and Management of Infertility: A Review. JAMA, 2021.
Walker MH, Tobler KJ. Female Infertility. Statpearls Publishing, 2022.
Vander Borght M, Wyns C. Fertility and infertility: Definition and epidemiology. Clin Biochem, 2018.