bactérias ´podem resistir a antibióticos com mecanismos diversos

Resistência antimicrobiana e COVID-19: Qual a relação?

Compreenda como o cenário atual da pandemia de COVID-19 pode agravar os casos de resistência de bactérias contra antibióticos.

A Resistência antimicrobiana é considerada um dos maiores desafios de saúde pública para a população mundial pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda segundo a OMS estima-se que até 2050, pelo menos 10 milhões de pessoas serão afetadas por infecções resistentes a antibióticos. 

Resistência antimicrobiana

A resistência antimicrobiana das bactérias é um mecanismo evolutivo para sua sobrevivência frente a esses medicamentos. A Resistência antimicrobiana (RAM) é potencializada por conta do uso indevido desses medicamentos, como antibióticos. 

O uso indevido de medicamentos ocorre principalmente quando: 

  • O indivíduo usa o medicamento sem orientação médica;
  • O tratamento medicamentoso é interrompido antes do tempo indicado de tratamento.

Essas situações favorecem o desenvolvimento de mecanismos de adaptação e de resistência da bactéria contra o antibiótico utilizado. 

Desta maneira, a bactéria pode permanecer por mais tempo no organismo, proliferar-se e chegar à corrente sanguínea, desencadeando importantes inflamações como a sepse.

A bactéria resistente possui a capacidade de multiplicar-se mais facilmente e, assim, transmitir os seus genes de resistência antimicrobiana para outras gerações bacterianas. 

Quanto maior for a exposição de uma bactéria a um antibiótico, maiores são as chances dela se adaptar e evoluir desenvolvendo uma resistência ao medicamento.

Além disso, as ocorrências de novas mutações no material genético dessas bactérias resistentes, podem dar origem as superbactérias, que são aquelas que possuem resistência a mais de um tipo de antibiótico. 

Quanto mais resistente uma bactéria se torna, mais difícil é o seu tratamento, uma vez que há menos antibióticos disponíveis capazes de tratar aquela infecção.

 A resistência antimicrobiana também é considerada uma grave ameaça à saúde pública global.  Ela põe em risco as prevenções e tratamentos eficazes de um conjunto grande de infecções, afetando não só o tratamento de infecções adquiridas na comunidade, como também as infecções adquiridas em hospitais. 

Isso pode causar um grande aumento nos custos de assistência médica devido à necessidade de medicamentos mais caros e uma estadia hospitalar prolongada.

Patógenos de origem bacteriana multirresistentes são responsáveis ​​pelo aumento das taxas de morbimortalidade de pacientes internados em hospitais. Os principais afetados são os pacientes com comorbidades ou em situação de fragilidade como os em unidades de terapia intensiva (UTI), neonatologia e oncologia.

Mecanismos de resistência bacterianas

A resistência antimicrobiana das bactérias s é, muitas vezes, resultado de variações genéticas. Estas variações podem ocorrer de forma aleatória ou através da aquisição de genes de resistência a partir de outros microrganismos. 

Seja por variação genética ao acaso ou por aquisição, as bactérias resistentes passam a ser capazes de transmitir esses mecanismos para as próximas gerações, dificultando a ação de fármacos e, consequentemente, o tratamento das infecções. 

Saiba mais sobre genes de resistência no artigo: Genes de resistência: o que são e como identificar?

Quais são os principais mecanismos de resistência bacteriana?

– Produção de enzimas que destroem ou modificam a ação dos antibióticos;
– Redução da permeabilidade da membrana externa;
– Sistemas de efluxo hiper expressos (excreção de substâncias tóxicas);
– Alteração, bloqueio ou proteção do sítio alvo do antibiótico.

Figura 1: Diferentes mecanismos de resistência antimicrobiana em bactérias
Figura 1: Diferentes mecanismos de defesa bacteriana contra antibióticos

As bactérias resistentes geralmente são mais fáceis de serem encontradas nos ambientes hospitalares devido aos diversos procedimentos que possuem caráter invasivo.

Estes procedimentos, possuem a necessidade do uso de antibióticos de amplo espectro. Os amplos espectros, são fármacos que atuam contra vários microrganismos, incluindo os não-patogênicos, podendo favorecer a resistência antimicrobiana das bacterias. 

 Além disso, as bactérias resistentes estão normalmente relacionadas com o ambiente hospitalar devido à:

  • Grande frequência do uso de antibióticos durante o período de internação, 
  • Maior tempo de exposição a agentes infecciosos e antimicrobianos devido à permanência prolongada no hospital.
Exemplos de bactérias resistentes a antibióticos

Klebsiella pneumoniae (KPC), 
-Staphylococcus aureus (MRSA) 
Acinetobacter baumannii 
Pseudomonas aeruginosa 

Covid-19 e Resistência a antibióticos

A pandemia da Sars-Cov-2 deixou a população mundial atenta às ameaças biológicas para novas pandemias e epidemias. Muitas dessas ameaças têm a capacidade de se proliferarem de maneira rápida, e ainda possuem uma grande capacidade de recombinação , devido as diversas mutações sofridas, como é o caso da Covid-19. 

Porém, um fato que chamou bastante a atenção dos pesquisadores e deixou a comunidade científica do estado de São Paulo em alerta foi o aumento de bactérias super-resistentes durante a pandemia.

Mas essa preocupação não se limita somente ao Brasil. Cientistas do mundo inteiro já confirmaram a possibilidade e presença em alguns pacientes de infecções secundárias bacterianas, que são perigosas e prevalentes, especialmente entre os pacientes que estão nas UTIs devido a COVID-19.

Segundo o Departamento de Saúde e Serviços humanos dos EUA, no ano de 2019, estima-se que 700.000 mortes ocorram anualmente devido a tratamentos com antibióticos mal sucedidos e esse número está crescendo rapidamente. 

Somente nos Estados Unidos, 35.000 mortes são atribuídas à resistência antimicrobiana anualmente, a um custo de US $20 bilhões em despesas relacionadas à saúde. 

O Departamento ainda afirma que o uso excessivo de agentes antibióticos terapêuticos e desinfetantes continua a causar resistências antimicrobianas emergentes em patógenos.

A previsão é que essa tendência de gerar mais bactérias resistentes seja acelerada pelo aumento do uso de antibióticos durante a pandemia, por conta do seu alto nível de uso nos setores hospitalares.

Como a resistência antimicrobiana pode ser controlada?

A resistência antimicrobiana de patógenos pode ser evitada por meio de atitudes bem simples, como:

  • Uso antibióticos somente sob recomendação médica
  • Rigor no Tempo e dose do antibiótico conforme a orientação do profissional de saúde
  • Não interromper o tratamento com antibióticos mesmo que não existam mais sintomas de infecção.
  • Manter a boa higienização das mãos, 
  • Lavar bem e adequadamente os alimentos antes do preparo, 
  • Seguir o calendário de vacinas
  • Somente entrar em contato com pessoas internadas utilizando elementos de proteção, como máscaras, luvas e batas, por exemplo.

A fim de evitar a resistência bacteriana, também é importante que os hospitais façam um levantamento das bactérias mais prevalentes em suas instalações, dando forte ênfase nas unidades críticas de internamento, para assim poderem determinar o perfil de sensibilidade e resistência desses microrganismos.

A partir do momento em que se obtém o conhecimento sobre quais são as bactérias mais frequentes e suas características, é possível elaborar estratégias para prevenir infecções durante o internamento dos pacientes.

A educação continuada e capacitação dos profissionais de saúde presentes nos setores hospitalares também é fundamental para evitar infecções hospitalares e o desenvolvimento de microrganismos resistentes.

Também é importante que outras ações sejam colocadas em prática para que haja um controle de bactérias resistentes ou superbactérias, uma vez que intervenções isoladas podem ser ineficientes.  Dentre elas, 

  • Vigilância de pacientes apresentando resistência de infecções em hospitais, 
  • Educação da comunidade sobre o uso correto de medicamentos 
  • Correto descarte de agentes antimicrobianos

Referências:

Antibióticos. Biblioteca virtual em saúde – Ministério da saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/18-a-24-11-o-futuro-dos-antibioticos-depende-de-todos-nos-semana-mundial-de-conscientizacao-sobre-o-uso-de-antibioticos/. Acesso em: 24 de maio de 2022.

Andrew R. Mahoney, Mohammad Moein Safaee, William M. Wuest, Ariel L. Furst.The silent pandemic: Emergent antibiotic resistances following the global response to SARS-CoV-2, iScience, Volume 24,Issue, 4,2021. Disponível em:  https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2589004221002728. Acessado em 26 de maio de 2022.

Silva, Rafael Almeida da et al. Resistência a Antimicrobianos: a formulação da resposta no âmbito da saúde global. Saúde em Debate [online]. v. 44, n. 126 [Acessado 31 Maio 2022] , pp. 607-623. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-1104202012602. ISSN 2358-2898. https://doi.org/10.1590/0103-1104202012602.

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