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Muitas pessoas se interessam por descobrir a origem de seus antepassados e, algumas delas, optam por realizar testes de ancestralidade para saber sua genealogia. No entanto, se os genomas de seres humanos variam em média 0,1%, como é possível que nossa ancestralidade seja determinada com esse teste?
Acompanhe o texto para descobrir! Nele, abordamos como e para que são realizados os testes de ancestralidade. Além disso, falamos sobre os diferentes tipos, limitações e também sobre como eles se relacionam com outros exames genéticos.
Como é feito o teste de ancestralidade?
Em geral, os testes de ancestralidade utilizam amostras coletadas com swab bucal, que são posteriormente processados por meio de técnicas de biologia molecular.
Os testes genéticos de ancestralidade são realizados por métodos moleculares que permitem encontrar semelhanças entre o genoma do indivíduo examinado e o de indivíduos contemporâneos, pertencentes a determinadas regiões geográficas.
As informações obtidas são, por fim, comparadas com genomas de referência, permitindo a estimativa da mistura de ancestralidade de uma pessoa, bem como a verificação de relações de parentesco entre indivíduos de um mesmo banco de dados.
Norlmente, são empregados ensaios de microarray (SNP-Array, na maioria dos casos) para que milhares de variantes genéticas presentes em uma amostra de DNA sejam interrogadas. As sondas utilizadas nas análises podem ser referentes a:
- DNA autossômico, utilizado para inferência de composição da ancestralidade e árvore genealógica;
- DNA mitocondrial (mtDNA) e Y-DNA, utilizados na determinação de haplogrupos (que podem ser orientados geograficamente).
Embora menos comum, também é possível realizar o teste de ancestralidade através do Sequenciamento de Nova Geração (NGS). O NGS permite uma análise genômica com maior precisão, indicando toda e qualquer variação na sequência de DNA.
O Predicta Infinity por exemplo, exame de mapeamento genético do Einstein Genômica, além de informar sobre a avaliação de risco para o desenvolvimento de doenças e medicamentos mais eficazes para tratamentos, também informa sobre ancestralidade, revelando sua origem genética.


O que determina o teste de ancestralidade?
O cálculo que indica a similaridade genética entre um DNA-teste e DNAs de referência para certas regiões geográficas é possível graças ao fato de que algumas variantes genéticas específicas estão presentes em indivíduos de uma região e são utilizadas para representar a população destes locais.
Esta representatividade genética se dá tanto porque determinadas variantes podem ser altamente frequentes em certas populações ou porque podem associadas a particularidades de algumas populações de origem geográfica conhecida.
Em outras palavras, estes testes genéticos apoiam-se sobre a ideia de que a frequência de algumas variantes genéticas tende a ser diferente entre indivíduos latino-americanos, asiáticos e europeus, por exemplo.
É a partir dessa noção que determinado genoma é comparado com outros e seu nível de semelhança seja inferido em termos de composição de ancestralidade. Isso nos traz, entretanto, uma questão pertinente: os cálculos de determinação da ancestralidade são exatos?
Tipos de testes de ancestralidade
Os testes de ancestralidade disponíveis no mercado são oferecidos de diferentes formas. Alguns buscam apenas inferir a ancestralidade geográfica das pessoas, tendo como referência genomas mais-ou-menos representativos de uma determinada localidade.
Outros testes oferecem também a possibilidade de estruturação da genealogia de uma família. Em outras palavras, os testes permitem que uma pessoa identifique outras como sendo pertencentes à sua família. Neste caso, as empresas mantêm bancos de dados para relacionar indivíduos aparentados.
Alguns testes de ancestralidade são acompanhados, ainda, da análise de variantes genéticas reconhecidamente patogênicas, como veremos adiante. Neste caso, a informação inferida é relativa a um aumento (ou diminuição) da predisposição genética a algumas doenças.
Teste de ancestralidade é confiável?
Para responder a essa questão, é importante ressaltar que um teste de ancestralidade é realizado comparando segmentos do genoma de uma pessoa com segmentos genômicos (disponíveis em um banco de dados) de indivíduos que atualmente habitam as diferentes regiões do mundo.
Não temos acesso ao genoma de populações verdadeiramente ancestrais, por isso a ancestralidade é inferida a partir dos descendentes existentes hoje em diferentes regiões geográficas.
Além disso, a obtenção de isolados representativos de uma determinada população é uma tarefa difícil. Por exemplo, o genoma de indivíduos contemporâneos do norte do continente africano pode não representar adequadamente a identidade genômica das pessoas que viviam nesta mesma região há séculos atrás, quando foram trazidas para as Américas.
De maneira semelhante, diversas populações contam com um número muito menor de pessoas quando em comparação com outros momentos da história.
No caso de populações indígenas, por exemplo, a reduzida diversidade genética de dessas populações na atualidade representa uma limitação dos testes. Isto porque, mesmo quando disponíveis como referência, estes genomas podem não representar perfeitamente a diversidade genética dos povos indígenas ancestrais.
Sendo assim, a acurácia da inferência de ancestralidade geográfica depende dos bancos de dados genéticos disponíveis, uma vez que estes são os dados a serem utilizados como referência de representação para determinados grupos populacionais.
De forma prática, os laboratórios que realizam estes testes devem ter o cuidado de evitar vieses, como aqueles advindos do fato de que muitos bancos de dados genéticos são compostos de genomas de origem europeia.


Parâmetros utilizados
O resultado e a interpretação dos testes de ancestralidade dependem de como e quais bancos de dados genéticos são utilizados pelo laboratório que executa estes testes.
Os detalhes e especificações sobre como estes ensaios são conduzidos não costumam ser divulgados por estes laboratórios. Isso acontece por questões comerciais e muitas vezes, éticas.
Consequentemente, quando desejamos realizar um teste de ancestralidade, devemos recorrer a laboratórios de excelência, cuja qualidade dos serviços é reconhecida e referenciada pela sociedade.
Dessa forma, é possível minimizar as limitações até aqui colocadas, especialmente nos casos em que o teste de ancestralidade é realizado tendo questões de saúde em vista.
Doenças genéticas detectáveis
Sabemos que determinadas variantes genéticas são patogênicas, ou seja, são capazes de influenciar no curso do desenvolvimento de uma ou mais doenças.
Tendo isso em vista, muitas pessoas buscam testes de ancestralidade querendo saber se possuem, em seu genoma, esse tipo de variante.
Muitos dos testes de ancestralidade disponíveis comercialmente oferecem adicionalmente esse serviço. O cálculo do Escore de Risco Poligênico é uma ferramenta importante no consultório de um geneticista e permite que indivíduos cuidem de sua saúde de maneira mais precisa.
Entretanto, quando estes escores são analisados sem o auxílio de um médico capacitado para entender as nuances de um exame, estas informações acabam por ter um significado científico e clínico incerto, de maneira semelhante à inferência de ancestralidade.
Se você deseja investigar seu próprio material genético para fins de saúde, a Varsomics recomenda que os testes genéticos em geral sejam realizados junto a um médico geneticista, que é capaz de oferecer aconselhamento genético.
Conclusão
Testes de ancestralidade visam inferir a ancestralidade geográfica de um indivíduo, bem como estabelecer relações de parentesco entre pessoas. Estes testes são geralmente realizados a partir da coleta de uma amostra por swab nasal.
Esta amostra é posteriormente processada por técnicas de biologia molecular, como o SNP-Array. Nesta técnica, centenas de milhares de pontos do genoma amostrado são investigados e comparados com genomas de referência para determinadas localidades do planeta.
Os testes de ancestralidade possuem limitações intrínsecas, amplamente relacionadas com a diversidade genética dos bancos de dados, bem como a dificuldade de se obter referências verdadeiramente representativas das populações ancestrais de uma determinada região.
Referências
Jorde, L.B., Bamshad MJ. Genetic Ancestry Testing: What Is It and Why Is It Important? JAMA. 2020
Theunissen, C.A. The Effects of DNA Test Results on Biological and Family Identities. Genealogy. 2022.
Bolnick, D.A. et al. The Science and Business of Genetic Ancestry Testing. Science. 2007.
Genoma USP. Ancestralidade: o que a genética tem a ver com isso? Youtube